Por que a economia russa teme sanções secundárias
3 de maio de 2025Há mais de três anos, analistas ocidentais tentam entender em que estado se encontra a economia russa. Ora parece sufocada pelas sanções do Ocidente, ora mostra surpreendente resiliência, com taxas de crescimento que chegaram recentemente a mais de 4%. O PIB russo cresceu 4,1% em 2023 e 4,3% em 2024.
No entanto, essa dinâmica — impulsionada pela adaptação à economia de guerra — parece estar a perder força. Muitos economistas falam agora de uma possível redução pela metade do crescimento, para apenas 2%. O Instituto de Economia Mundial de Kiel prevê um crescimento de apenas 1,5% para 2025, e de apenas 0,8% para 2026.
Até o Banco Central da Rússia projeta uma desaceleração da economia, mantendo, segundo a agência russa Interfax, sua previsão de crescimento do PIB russo entre 1,0% e 2,0% para 2025, e entre 0,5% e 1,5% para 2026. O instituto Ifo de Munique é ainda mais pessimista: prevê que, após leve crescimento este ano, a economia russa encolherá 0,8% em 2026.
Ambiente difícil
A taxa de juro do banco central russo está em 21%, um valor extremamente alto, que trava o investimento privado. O setor automotivo e a indústria de máquinas estão estagnados, e há dificuldades também na construção civil e no setor siderúrgico.
A valorização do rublo em cerca de 40% desde o início do ano frente ao dólar é, segundo Vasily Astrov, especialista em Rússia do Instituto de Estudos Econômicos Internacionais de Viena (WIIW), uma reação à postura favorável à Rússia adotada pelo presidente dos EUA, Donald Trump.
"Quando Trump assumiu, declarou que seguiria uma linha radicalmente diferente da de Biden em relação à Rússia", afirmou Astrov à DW. Trump indicou que buscaria maior cooperação com a Rússia e até a suspensão das sanções. Isso gerou euforia nos mercados financeiros russos, impulsionando as ações e valorizando o rublo. Mas o que acontecerá se essa euforia se reverter?
Sanções bancárias atingem duramente a Rússia
Em novembro de 2024, os EUA endureceram as sanções contra o Gazprombank, excluindo o banco do sistema financeiro americano. As transações com parceiros nos EUA foram proibidas e seus ativos congelados. O Gazprombank, peça central no pagamento por gás russo e no financiamento de projetos militares, foi duramente atingido. A UE, por sua vez, manteve o banco fora das sanções até o final de 2024 para permitir os pagamentos de gás por parte dos países europeus.
Após o anúncio das sanções americanas, o rublo perdeu um quarto de seu valor frente ao dólar em pouco tempo. A bolsa de valores russa sofreu quedas acentuadas, com vendas em massa, especialmente nos setores financeiro e energético.
Não é de surpreender que as autoridades russas tenham prestado atenção às declarações de Trump após seu encontro com o presidente ucraniano no final de abril, em Roma. Trump insinuou que poderia ser hora de "lidar de outra forma com Putin" e sugeriu medidas no setor bancário ou novas sanções secundárias.
O que são sanções secundárias?
Sanções secundárias são medidas impostas a terceiros — países, empresas ou indivíduos — que continuam a fazer negócios com a Rússia.
O senador republicano Lindsey Graham, aliado de Trump, reagiu às declarações com um post na rede social X. Graham afirmou que ele e quase 60 parlamentares de ambos os partidos apoiam um projeto de lei que imporia tarifas secundárias a qualquer país que compre petróleo, gás, urânio ou outros produtos da Rússia.
Há um "projeto de lei bipartidário com quase 60 coassinantes que imporia tarifas secundárias a qualquer país que compre petróleo, gás, urânio ou outros produtos russos", escreveu Graham em seu tweet de 26 de abril.
China, Índia e Turquia
Essas medidas afetariam especialmente China e Índia, explica Vasily Astrov. "A China se tornou o maior parceiro comercial da Rússia, responsável por cerca de 40% das importações russas e 30% das exportações em 2024. Além disso, a China e Hong Kong são canais-chave para a importação de componentes usados na indústria militar russa.” A Índia também desempenha papel central, absorvendo junto com a China mais da metade do petróleo exportado pela Rússia.
Era previsível que a China não aderisse às sanções ocidentais. Também não foi surpresa a neutralidade da Índia. O que surpreendeu, segundo Astrov, foi a Turquia, que mesmo sendo membro da NATO e parte de uma união aduaneira com a UE, também não aplicou as sanções ocidentais.
Pagamentos com a Rússia "mais complicados"
Sob o governo Biden, a aplicação das sanções secundárias foi rigorosamente fiscalizada, e violações foram punidas. Bancos chineses e turcos que processaram pagamentos vindos da Rússia enfrentaram forte pressão do governo dos EUA.
Com Trump, no entanto, houve uma reviravolta na política americana em relação à Rússia. Segundo Astrov, até o departamento do Tesouro dos EUA responsável por monitorar os bens de oligarcas russos foi desmantelado, e a fiscalização sobre sanções secundárias foi enfraquecida.
Ainda assim, é difícil prever até que ponto novas sanções secundárias sob Trump afetariam os parceiros comerciais da Rússia. Uma reportagem da Reuters revelou que bancos russos estabeleceram um sistema alternativo de compensação, chamado "China Track”, para transações com a China, evitando as sanções ocidentais.
Sistema paralelo: "China Track"
Segundo fontes do setor bancário, o "China Track” já opera há algum tempo, sendo gerido por vários bancos russos sob sanções. O sistema envolve intermediários localizados em países que ainda mantêm relações comerciais com a Rússia. Até o momento, o mecanismo tem funcionado sem grandes interrupções.
Isso poderia neutralizar as sanções dos EUA contra bancos chineses? "Não descarto que os parceiros chineses deixem de temer as sanções secundárias”, afirmou à Reuters Alexander Shokhin, presidente da União de Industriais e Empresários da Rússia (RSPP), que participa das negociações comerciais com a China.