Perspetivas de paz e Mundial de 2026 levantam o ânimo na RDC
11 de julho de 2025O futebol na República Democrática do Congo (RDC) está a atravessar um período positivo. A equipa feminina disputou a Taça das Nações Africanas pela primeira vez desde 2012, enquanto a seleção masculina lidera o grupo de qualificação para o Campeonato do Mundo de 2026, o que os coloca no possível regresso ao Mundial após a última participação em 1974.
Fora de campo, há também notícias animadoras. Se o acordo de paz assinado no passado mês de junho entre o país e o vizinho Ruanda se concretizar, a violência persistente poderá diminuir e os cidadãos poderão ter uma nova oportunidade de praticar ou ver desporto.
Os pormenores do plano de paz, mediado pelos Estados Unidos, podem ser atualmente vagos, devido às preocupações quanto à sua viabilidade e aos baixos níveis de confiança entre as duas partes, mas a perspetiva de estabilidade é bem-vinda.
Como a paz pode marcar pontos
Se os combates cessarem, Guy Burton, analista internacional, afirma que há condições para o regresso do futebol. "É preciso chegar a um acordo de paz, porque vários clubes sediados no leste do país não puderam jogar devido ao recente conflito e invasão", diz.
Com a estabilidade no país, é necessário financiar as infrastruturas desportivas, lembra Francisco Mulonga, presidente do Sporting Club de Kinshasa. "Desde que seja seguida de uma implementação concreta e sustentável, o Estado e os investidores podem financiar melhor a reabilitação de estádios, campos comunitários e centros de treino. As regiões que antes estavam em guerra podem finalmente beneficiar de verdadeiras instalações desportivas", disse à DW.
Mais oportunidades em cidades como Goma, que fica perto da fronteira com o Ruanda, dariam aos jovens uma escolha: chutar uma bola em vez de pegar numa arma ou envolver-se no crime.
O impacto do Mundial de 2026
Participar no Campeonato do Mundo de 2026 pode ser uma "viragem no jogo" para a RDC. Mesmo com a instabilidade que se vive no país, a RDC está no topo do grupo de qualificação, com o Senegal e o Sudão logo atrás, faltando apenas quatro jogos. A República Democrática do Congo defronta estas duas seleções em casa ainda este ano.
Ricardo Eluka, fundador da Espoir Football Academy em Kinshasa, afirma que se a RDC chegar ao Mundial, é o abrir de uma porta ao mundo do futebol. "O Congo tem o mesmo nível de talento que a equipa nigeriana, ou o Gana e o Senegal. Temos esse tipo de jogadores, mas não temos dinheiro para investir. Se houvesse mais dinheiro a entrar, o futebol no Congo seria enorme", defende.
Mais investimento nas bases, nas instalações e nos clubes ajudaria o país a produzir mais jogadores como Chancel Mbemba, que já jogou quase 100 vezes pela seleção nacional, além de entrar em campo por clubes europeus como o Newcastle United, o FC Porto e o Marselha.
"A qualificação para o Campeonato do Mundo teria um impacto muito positivo e estruturante no futebol congolês a vários níveis: desportivo, económico, social e até político", destaca.
Resta saber se a participação da equipa masculina no Campeonato do Mundo irá impulsionar o futebol feminino, mas seria certamente muito celebrado num país que não tem tido muito para celebrar nos últimos anos.
O futebol é quase uma religião nacional na RDC e se a seleção se qualificar para o Campeonato do Mundo, isso certamente irá voltar a unir as pessoas.