Parlamento angolano adia mais uma vez o pacote autárquico
13 de agosto de 2025A última sessão deste ano parlamentar começou com um minuto de silêncio em memória das 30 pessoas mortas, no final de julho, durante os protestos e tumultos contra o aumento do custo de vida em Angola.
As bancadas parlamentares dos maiores partidos, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder desde 1975) e a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA, maior partido na oposição), esgrimiram argumentos sobre se foram protestos ou tumultos, e quem teriam sido os culpados – se o Governo, por não ouvir os cidadãos, ou os opositores, por alegadamente incentivarem a desordem.
O que o Parlamento não debateu, mais uma vez, foi a implementação das autarquias. A oposição considera o pacote legislativo autárquico fundamental para trazer o desenvolvimento e os empregos exigidos pelos cidadãos angolanos. Mas continuam por aprovar três instrumentos jurídicos.
Para o jornalista Ilídio Manuel, o partido no poder, o MPLA, não está sequer interessado em concluir a aprovação do pacote autárquico, apesar do Presidente João Lourenço ter dito o contrário.
"As eleições locais implicariam a perda do poder pela horizontal. Naturalmente, isso levaria mais tarde à perda do poder pela vertical."
Há vários anos que a aprovação final do pacote é postergada, lembra o jurista Agostinho Canando.
"Parece que há um atraso propositado e uma expressa vontade política em [não] se realizar as eleições autárquicas", afirma.
Aprovado pacote legislativo para eleições gerais de 2027
O que foi aprovado esta quarta-feira (13.08), já no cair do pano do ano parlamentar, foi o pacote legislativo eleitoral. O MPLA e a UNITA chegaram a um entendimento sobre as leis que vão regular as eleições gerais de 2027.
Mihaela Webba, deputada da UNITA, salientou que o voto do maior partido da oposição foi pela "estabilidade política" no país.
"Apesar de esta alteração não ser perfeita, foi a alteração possível a bem de Angola e dos angolanos", disse Webba.
Por sua vez, o parlamentar João Azevedo Martins, do MPLA, afirmou que o diálogo falou mais alto: "Um diálogo sereno, sério, objetivo e sobretudo assertivo, que levou a que o grupo parlamentar do MPLA votasse a favor da aprovação destas leis."
O pacote legislativo eleitoral é composto pela Lei Orgânica sobre as Eleições Gerais, Lei Orgânica sobre a Organização e Funcionamento da Comissão Nacional Eleitoral e Lei do Registo Eleitoral.