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ReligiãoAngola

Papa Leão XIV: "Paz com justiça" é a mensagem mais forte

9 de maio de 2025

Ao se apresentar aos fiéis católicos, o Papa Leão XIV ressaltou também o diálogo, defende Belmiro Chissengueti. O bispo angolano espera que o pontífice mantenha os olhos em África e incentive os valores democráticos.

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Norte-americano Robert Francis Prevost escolheu o nome papal Leão XIV
Norte-americano Robert Francis Prevost escolheu o nome papal Leão XIVFoto: Vatican Media/AP/picture alliance

Em entrevista à DW, o bispo de Cabinda ressalta que o novo Papa irá buscar o fim dos inúmeros conflitos em andamento na atualidade, em especial os "conflitos esquecidos" em África. Sendo o continente "o pulmão espiritual do mundo", o religioso espera que Leão XIV tenha os olhos voltados para África e acredita ainda que, "sem dúvida", o Papa, ele mesmo um migrante, terá "uma voz muito forte" nesta senda.

Dom Belmiro Chissengueti espera ainda que Leão XIV inclua Angola na sua agenda de viagens, inaugure o santuário mariano da Nossa Senhora da Conceição da Muxima e "incentive a democracia, o pluralismo e a liberdade".

O religioso começou por desmentir rumores, que circulam nas redes sociais, de que o Papa teria uma ligação de proximidade com Angola.

DW África: O Papa Leão XIV tem uma relação de proximidade com o continente africano, em especial com Angola?

Belmiro Chissengueti (BC): Não me consta que tenha passado por cá, alguma vez. Tenho notícia de que ele tenha estado pelo Congo e outros países africanos, onde estão os missionários agostinianos, que por acaso não estão em Angola.

DW África: Qual foi a mensagem mais forte que ele passou neste primeiro comunicado que ele fez aos fiéis?

BC: A Mensagem mais forte é esta mensagem de paz. Estamos num período muito conturbado, em que o espectro da Terceira Guerra Mundial parece mais próximo. Portanto, também a luta para que haja o fim dos grandes conflitos e também dos pequenos. Nós temos o conflito e entre a Rússia e a Ucrânia ou vários conflitos em África, desde o Congo até ao Sudão do Sul, ao Sudão, à Republica Centro-Africana, mesmo também com a guerra do Sahel, o Boko Haram na Nigéria. Então, é muita guerra.

Papa Leão XIV apresentou-se hoje aos fiéis

DW África: Ele falou na "busca da paz e da justiça sem medo”. Também falou em "diálogo”. Como é que interpreta essa abordagem do novo Papa?

BC: Não há paz sem justiça. Uma paz sem justiça é uma preparação para um novo conflito. A justiça é também o nome da paz. Por conseguinte, os nossos países devem trabalhar para a justiça a fim de que limpem os conflitos.

DW África: Acha que existe uma intenção dele de buscar ativamente o diálogo a partir da sua posição de Papa?

BC: Todos os papas, com maior ou menor incisão, foram sempre promotores da paz. E este, no contexto em que ele emerge, com muito mais necessidade e urgência. Nós temos guerras esquecidas e que dizimam muito mais do que aquelas que nós conhecemos. Temos as guerras silenciadas, essas guerras provocadas pelas multinacionais que, em África, roubam desenfreadamente os recursos naturais.

É preciso acordar para estas situações e o Papa Francisco foi de cadeira de rodas ao Congo, foi ao Sudão do Sul, foi à República Centro-Africana, para levar aos holofotes do mundo realidades esquecidas, e creio que o Papa Leão XIV, ao reafirmar este propósito, insere-se nesta mesma senda da Igreja, de despertar as pessoas para a necessidade de lutar por uma paz justa.

DW África: Também o Papa Leão XIV terá olhos para a África?

BC: Eu penso que sim. África é, hoje em dia, como dizia o Papa Bento XVI, "o pulmão espiritual do mundo”. É aqui um dos continentes com maior crescimento da Igreja Católica no mundo. Por conseguinte, o Papa tem que ter um olhar para este continente.

Quem será o novo papa?

DW África: O facto de este Papa ser um migrante, ele é um norte-americano que também se tornou cidadão peruano, isso pode impactar na intervenção que ele possa vir a ter em relação aos migrantes?

BC: Sem dúvida nenhuma. Hoje em dia, uma das maiores contradições do mundo é que, e falo concretamente dos Estados Unidos que são um país criado por imigrantes, rejeita os imigrantes. Só no Papa Leão XIV, encontramos várias descendências: francesa, italiana, espanhola. E depois, vai trabalhar no Peru como missionário mas trabalhar com os imigrantes. Então, é alguém que carrega no sangue e na alma o peso de ser imigrante, entendendo as condições que este estado representa. Eu acho que ele vai ter uma voz muito forte em relação a isto.

DW África:  Qual seria a sua expectativa em relação a esse Papa?

BC: Que seja uma pessoa de proximidade, que continue a alargar o Colégio Carnalício com representações de países com grande expressão católica e que nos ajude a criar novas dioceses. Esperamos igualmente que venha visitar Angola também e que, desta vez, seja para a inauguração do muito prometido santuário mariano (da Nossa Senhora da Conceição) da Muxima. Esperava também que ele continue, digamos, a incentivar a democracia, o pluralismo e a liberdade, que são elementos indispensáveis para o crescimento das nações. E que continue a nos confirmar na fé, que é a sua missão principal.

DW África: Qual o significado da escolha desse nome, Leão XIV?

BC: O Papa Leão XIII distinguiu-se, sobretudo, com a sua encíclica Rerum Novarum, das coisas novas, que é um marco importante da doutrina social da Igreja. E penso que ele, ao escolher este nome, quis colocar as questões sociais também no plano prioritário da ação da Igreja e, de alguma forma, pelas suas palavras, das vezes que em que repetiu o nome do Papa Francisco, deve notar-se que dá alguma continuidade ao seu ministério. Embora me pareça que, mesmo seguindo alguns aspetos de Francisco, não o seguirá no seu todo.

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