PALOP: Jovens procuram oportunidades em Portugal
13 de junho de 2025A crise económica conjuntural levou muitos jovens africanos lusófonos a abandonar os respetivos países nos últimos cinco anos. Viajaram para Portugal à procura de melhores perspetivas de vida e descoberta de outros horizontes. Só que são muitos os desafios de integração no mercado de trabalho que enfrentam no chamado "El Dourado" europeu.
O primeiro desafio, além da habitação e documentação, é conseguir um emprego como suporte de subsistência.
Indira Glória, de 25 anos, chegou a Portugal há pouco tempo, vinda de São Tomé e Príncipe, para vivenciar uma nova experiência como imigrante, a trabalhar no ramo da hotelaria.
À DW, conta que "não vivia mal [em São Tomé e Príncipe] e que até tinha oportunidades", mas teve curiosidade para conhecer mais.
"Estava a fazer um curso para dar aulas, mas meti simplesmente os documentos e saí, [porque] suscitou-me aquela curiosidade em conhecer novas realidades, saber como é viver fora de São Tomé, conhecer outras rotinas. Então, Portugal é a base; depois de Portugal você consegue explorar outros países", diz.
No mercado laboral português, jovens como Indira auferem salários baixos e fazem muitas vezes trabalhos que os locais não querem executar. Por outro lado, com o envelhecimento da população portuguesa, é cada vez mais necessária mão-de-obra imigrante.
O pai de Sofia Embaló, natural da Guiné-Bissau, teve de ir para outro país da Europa porque o emprego em Portugal não era aliciante. Com 21 anos de idade, a jovem universitária portuguesa de origem guineense, licenciada em Estudos Africanos, está a frequentar um estágio curricular no Observatório da China para tentar entrar no mercado de trabalho.
"Geralmente temos aquela expetativa de que cá não vamos conseguir encontrar emprego. Em princípio, eu pretendo ir para fora também para expandir os meus conhecimentos e ver outros ambientes", afirma à DW.
"Sempre ouvi dizer que é muito difícil encontrar emprego cá em Portugal. Mesmo [para] nós que estudamos cá é difícil. Então, consigo imaginar: as pessoas vêm de fora à procura de trabalhos melhores muitas vezes não conseguem encontrar emprego na mesma área", acrescenta.
Abandono escolar
Fazem parte deste grupo os estudantes-trabalhadores, que encontram muitas barreiras e dificuldades para se autossustentarem. Júnior Tavares, representante da recém-criada Federação Académica Africana de Portugal, explica que "muitos dos estudantes têm dificuldade em conseguir integrar-se num trabalho que seja compatível ou que dê para conciliar com o seu horário académico". Esta realidade faz com que, "muitas vezes, o estudante abandone os estudos para poder trabalhar em regime integral."
É um fenómeno que leva a Federação a agir no sentido de apoiar os estudantes a entrar no mercado de trabalho sem abandonar os estudos. Para isso, foi criado um projeto destinado a talentos universitários em parceria com uma rede de empresas que financia vagas de trabalho, tendo em conta a situação académica do estudante africano.
Ganhos para países de origem
Segundo a académica portuguesa Cátia Batista, do Centro NOVÁFRICA – criado pela Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa – a saída de muitos imigrantes para o estrangeiro, entre outros fatores, "traz muitos ganhos para os países de origem”.
"O que nós vimos aqui é que estes ganhos para o desenvolvimento económico dos países de origem também beneficiam de uma integração melhorada dos imigrantes no país de destino”, considera.
A investigadora dirigiu o estudo académico "Morabeza", baseado em 800 imigrantes cabo-verdianos radicados em Portugal nos últimos cinco anos.