Momade "tem cabeça para usar chapéu, não para pensar"

Os antigos guerrilheiros da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) anunciaram em 23 de junho a reabertura das sedes do partido, encerradas em protesto nas semanas anteriores contra a liderança do presidente do partido, dando 20 dias para que a direção avance com o Conselho Nacional, o que não aconteceu até agora.

A RENAMO chegou a anunciar anteriormente a realização do primeiro Conselho Nacional de 2025 a 7 e 8 de março, que foi depois adiado, sem nova data.

Em entrevista à DW, João Machava, porta-voz dos ex-guerrilheiros da RENAMO, diz que encerrar "em definitivo" as delegações em todo o país. Machava acusa o presidente da RENAMO, Ossufo Momade, de não reagir às inquietações dos membros do maior partido da oposição moçambicana, estar a desviar fundos do partido e ameaça "ir atrás" de Momade de seus companheiros se a polícia intervir.

DW África: Ameaçam encerrar todas as sedes da RENAMO, mas não falam em datas. Contam com o efeito surpresa como arma?

João Machava (JM): Nós não estamos a ameaçar, estamos a dizer que vamos encerrar porque nós é que dissemos vamos dar uma trégua, vamos parar de encerrar delegações, vamos abrir as delegações a partir do dia 23. Então, o prazo de 20 dias terminou ontem.

Então, Ossufo Momade não está a dizer nada. Vimos a necessidade de ativarmos o fecho das delegações. O que resta é só ouvirem província X e distrito X já encerrou as portas?

DW África: E qual foi a primeira sede a ser fechada?

JM: Não. Hoje só anunciamos para as províncias se prepararem até ao fim da tarde. Amanhã hei-de ter os relatórios das províncias. Qual será a primeira província, eles vão dizer porque é um trabalho bem organizado, bem controlado.

DW África: A que se deve o silêncio de Ossufo Momade e de toda a liderança da RENAMO, a seu ver?

JM: Aquele que tem cabeça para segurar o chapéu, não tem cabeça para pensar e ainda está para terminar as obras que ele tem (feito) com dinheiro do partido. Se alguém está fazendo negócio com dinheiro do partido, pode não fazer obra como instalação, mas fazer obra no partido como trabalho político.

DW África: Então, está a dizer que ele está a desviar o dinheiro do partido?

JM: Sim, sim, está a desviar. Por isso não quer a reunião do Conselho Nacional para prestação de contas. Não quer.

DW África: E que factos é que comprovam isso?

JM: É que ele não quer a reunião do Conselho Nacional alargado. Primeiro, quando ele entrou na RENAMO, cortou todos os subsídios dos delegados distritais e provinciais ao nível do país. Segundo, já cancelou também o fundo do funcionamento nas províncias.

Como é que as províncias vão fazer? Como é que vão trabalhar? Onde é que está aquele dinheiro que devia ir para as províncias? O que é que faz? Diz que para realizar o Conselho Nacional não há dinheiro. E o dinheiro que o partido recebe do Estado, para onde é que vai? Está a desviar fundos do partido.

DW África: Não receia uma resposta armada da polícia como aconteceu da última vez?

JM: Não. Uma resposta armada da polícia, nós não receamos. Por isso, hoje fizemos um apelo à polícia para não se intrometer nos assuntos da RENAMO, porque nós também somos pessoas. A pessoa cansa. Então, podemos cansar. Se cada um fizer aquilo que entender não há-de ficar bonito.

DW África: E também ameaçam dar uma resposta ou tomar atitudes menos desejadas, caso o Governo se intrometa neste assunto da RENAMO. Qual seria a vossa resposta caso a polícia haja com violência?

JM: A polícia se agir com violência é convidada. Nós vamos deixar a polícia, vamos atrás da pessoa que convidou a polícia.

DW África: Está a dizer que irão atrás de Ossufo Momade?

JM: Ossufo Momade e companhia com os seus apoiantes, sim.

DW África: Se a médio prazo a liderança da RENAMO não responder satisfatoriamente às vossas exigências, qual será a próxima medida, para além do encerramento já anunciado?

JM: Daqui a sete dias, vamos dizer qualquer coisa ao povo moçambicano, porque não estamos parados, estamos a trabalhar.