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"Ossufo Momade está a matar de vez a RENAMO"

17 de julho de 2025

Analista ouvido pela DW considera que a RENAMO leu hoje a sua própria sentença, ao ignorar as críticas de ex-guerrilheiros e insistir na manutenção da atual liderança. Alguém tem de dizer a verdade a Ossufo Momade, diz.

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Ossufo Momade, presidente do partido RENAMO
Críticas ao presidente da RENAMO aumentam de tomFoto: Nádia Issufo/DW

A Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) remeteu hoje o debate sobre a saída ou manutenção do líder Ossufo Momade ao congresso do partido, cuja sessão ordinária deverá acontecer em 2029.

Enquanto isso, o partido prepara para este ano a reunião do Conselho Nacional para analisar os problemas internos da formação política da oposição, anunciou hoje, em Maputo, a secretária-geral da RENAMO.

Clementina Bomba falava numa conferência de imprensa para reagir às declarações dos antigos guerrilheiros que, na segunda-feira (14.07), anunciaram que pretendem encerrar as delegações da RENAMO em todo o país, por ainda não ter sido convocado um Conselho Nacional alargado.

Em entrevista à DW, o analista Hilário Chacate diz-se "chocado com a casmurrice da liderança da RENAMO".

Na opinião do académico moçambicano, o partido chegou a um ponto tão crítico que já não pode descer mais e alguém dentro do próprio partido "tem de ter coragem" de dizer a Ossufo Momade "que ele está a matar de vez a RENAMO", que corre o risco de desaparecer se continuar esta "teimosia".

DW África: A RENAMO remeteu hoje o debate sobre a saída ou manutenção do líder Ossufo Momade ao congresso do partido. A decisão de adiar mais uma vez o debate sobre a liderança para um congresso longínquo pode enfraquecer ainda mais a coesão interna?

Hilário Chacate (HC): Estou extremamente chocado pela casmurrice da liderança da RENAMO. Os cenários a que nós assistimos nos últimos tempos, desde pouco antes das eleições autárquicas de 2023 e após as eleições de 2024, foram indicações mais do que suficientes de que a estrutura de liderança da RENAMO não estava em condições de responder às demandas, quer a nível interno da própria RENAMO, quer a nível externo ao partido.

Pensei que fosse uma insistência, porque ainda era possível fazer essa insistência, mas acredito que a RENAMO chegou a um ponto tão crítico - chegou no fundo do poço - que já não tem onde chegar mais.

Ossufo Momade: "A RENAMO é a segunda força no país"

Hoje em dia, a reestruturação da RENAMO é uma questão do interesse não só da própria RENAMO, como também de todos os amantes da democracia em Moçambique. É do interesse daqueles que acham que é importante que haja várias opções políticas; daqueles que admiraram ou continuam a admirar a RENAMO. Então, é completamente absurdo, completamente incompreensível, que a RENAMO continue a insistir na estrutura de liderança montada desde a morte [do líder histórico do partido] Afonso Dhlakama.

DW África: É um caso de teimosia da liderança em sacudir as críticas, especialmente depois destas ameaças dos antigos guerrilheiros em encerrar as sedes do partido em todo o país?

HC: Já aconteceu um pouco de tudo na RENAMO. Os antigos guerrilheiros da RENAMO amotinaram-se em quase todas as sedes nacionais; amotinaram-se na sede nacional, demandando a saída de Ossufo Momade. Por muito tempo, quase desde a sua origem, a RENAMO foi garantindo a sua sobrevivência e manutenção pelas forças militares. Mas são esses antigos guerrilheiros da RENAMO que agora estão a dizer que não querem Ossufo Momade. Como é que ele ainda acha que tem alguma coisa a oferecer à RENAMO?

Aliás, em bom rigor, Ossufo Momade nunca teve nada para oferecer ao partido. Ele chegou ali por uma questão de conveniência e não por mérito ou capacidade. Alguém deve dizer-lhe isso, porque poderá até estar num cenário tão grave que nem tem noção [disso].

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Alguém tem de ter coragem, dentro da RENAMO, de dizer a Ossufo Momade de que está a matar de vez a RENAMO. Se ainda restava alguma coisa que a RENAMO pudesse oferecer – esperança ou alguma expetativa aos moçambicanos que ainda acreditavam na RENAMO – o anúncio de hoje é simplesmente para acabar com qualquer possibilidade da RENAMO continuar a se manter como força política. Desde que iniciámos o multipartidarismo em Moçambique, a RENAMO foi sempre a segunda maior força política e a maior força da oposição, mas por conta desta teimosia da liderança da RENAMO, o partido passou para terceira posição e corre o risco de desaparecer.

DW África: E agora que os antigos guerrilheiros ameaçaram encerrar as delegações da RENAMO em todo o país, porque ainda não foi convocado um Conselho Nacional alargado, a RENAMO veio hoje pedir aos membros para manterem em pleno funcionamento as delegações. Garantiu ainda que está a preparar a realização do tal Conselho. Mas tendo em conta que este órgão não tem competência para demitir o presidente, só o congresso, o que esperar desta reunião?

HC: Eu compreendo que, do ponto de vista formal e dos procedimentos, Ossufo Momade ainda está dentro do seu mandato. Ninguém questiona isso. O que nós estamos a dizer aqui é que o debate deve ser sobre a legitimidade de Ossufo Momade, até numa perspetiva de alguma razoabilidade do próprio Ossufo Momade. Ele mesmo, como indivíduo, devia ter alguma perceção ou compreensão de que, desde que assumiu a RENAMO, a significância do partido foi reduzindo e ele devia ter a coragem de abandonar a liderança.