ONU alerta para "necessidades crescentes" em Cabo Delgado
16 de agosto de 2025A ONU estima que cerca de 30 mil pessoas receberam produtos alimentares e artigos essenciais até finais de julho, na província moçambicana de Cabo Delgado, alertando, contudo, que a resposta ainda não satisfaz as "necessidades crescentes".
"Os civis enfrentam uma escalada de violência no meio da redução do financiamento. Até ao final de julho, cerca de 30.000 deslocados tinham recebido alimentos, água, abrigo e artigos domésticos essenciais", lê-se num relatório do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), consultado este sábado (16.08) pela Lusa.
De acordo com a agência da ONU, a resposta ainda não atingiu a escala necessária para satisfazer as "necessidades crescentes" naquela província do norte de Moçambique.
"O Plano de Resposta e Necessidades Humanitárias, que necessita de 352 milhões de dólares [300,8 milhões de euros], está com apenas 19% do financiamento, tendo recebido 66 milhões de dólares [56,4 milhões de euros]", refere-se.
Para se adaptarem à nova realidade de financiamento, o OCHA explica que as agências humanitárias reordenaram as suas ações de resposta, atendendo apenas 317.000 pessoas, "uma redução de 71% face aos 1,1 milhões de pessoas inicialmente visadas".
"O plano reordenado requer 126 milhões de dólares [107,6 milhões de euros], uma redução de 61% em relação ao pedido original", avança.
Segundo aquela agência da ONU, verifica-se atualmente em Moçambique o efeito "devastador" da crise global de financiamento nas Organizações Lideradas pelas Mulheres e pelos Direitos das Mulheres.
"Isto é especialmente preocupante em Cabo Delgado, onde 80% dos deslocados internos são mulheres e crianças que enfrentam elevados riscos de proteção", explica, alertando que sem financiamento "urgente", as desigualdades e vulnerabilidades de género existentes irão agravar-se.
Programa Mundial Alimentar está a ajudar menos
Este sábado, o Programa Mundial Alimentar (PMA) também informou que cerca de 76 mil pessoas ficaram sem apoio de emergência em julho na província moçambicana de Cabo Delgado, palco de uma insurgência armada, devido à falta de financiamento do organismo.
Com a falta de financiamento ao abrigo da resposta a emergência em Cabo Delgado, o PMA foi "forçado" a reduzir, "de 420 mil para 344 mil pessoas", o número de beneficiários da ajuda naquela província do norte de Moçambique, deixando cerca de 76 mil pessoas sem apoio, informou Denise Colletta, oficial de comunicação no país na agência das Nações Unidas. Trata-se, acrescentou, de uma redução "drástica" no apoio humanitário em Cabo Delgado.
Francisco Mendes, chefe do escritório do PMA em Cabo Delgado, garantiu na quinta-feira que, apesar dos cortes de financiamento, a agência continua a prestar assistência alimentar "vital" as comunidades.
Desde outubro de 2017, a província de Cabo Delgado, rica em gás, enfrenta uma rebelião armada com ataques reclamados por movimentos associados ao grupo extremista Estado Islâmico.
A nova onda de ataques, sobretudo no distrito de Chiúre, a partir da última semana de julho, provocou mais de 57.000 deslocados, segundo organizações no terreno.
De acordo com o mais recente relatório da Organização Internacional para as Migrações (OIM), com dados de 20 de julho a 03 de agosto, "a escalada de ataques e o crescente medo de violência" por parte de grupos armados não estatais nos distritos de Muidumbe, Ancuabe e Chiúre, levaram ao deslocamento de aproximadamente 57.034 pessoas, num total de 13.343 famílias.
O ministro da Defesa Nacional admitiu no final de julho preocupação com a onda de novos ataques em Cabo Delgado, adiantando que as forças de defesa estão no terreno a perseguir os rebeldes armados.
"Como força de segurança não estamos satisfeitos com o estado atual, tendo em conta que os terroristas nos últimos dias tiveram acesso às zonas mais distantes do centro de gravidade que nós assinalámos", disse Cristóvão Chume, aos jornalistas.
Pelo menos 349 pessoas morreram em ataques de grupos extremistas islâmicos no norte de Moçambique em 2024, um aumento de 36% face ao ano anterior, segundo um estudo divulgado em fevereiro pelo Centro de Estudos Estratégicos de África (ACSS).