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PolíticaAlemanha

Estudo: O racismo na Alemanha é uma realidade cotidiana

Hans Pfeifer
21 de março de 2025

O dia 21 de março é o Dia Internacional Contra a Discriminação Racial. Na Alemanha mais de 60% das mulheres muçulmanas e das pessoas negras experienciam discriminação, segundo pesquisas. As consequências são graves.

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Deutschland Integration - Afrikaner
O racismo pode provocar problemas do foro psicológico, rezam estudos recentes efetuados na Alemanha. Foto: picture alliance/dpa/O. Killig

O racismo na Alemanha é uma realidade cotidiana para muitas mulheres, especialmente para as que são vistas como migrantes ou muçulmanas. Fatma e Hanna são exemplos de como o preconceito e a discriminação racial afetam a vida das pessoas, mesmo em grandes cidades como Berlim. Estudos recentes mostram que mais de metade das pessoas racialmente marcadas enfrentam discriminação regularmente, e que o racismo se tornou mais subtil, adaptando-se às normas sociais.

Problemas laborais e "comentários estúpidos"

Fatma trabalha como educadora em Berlim. O dia começa já de manhã, quando ela vai de carro para o trabalho. 
"Os outros motoristas olham para mim, observando-me." Ela está vestida de forma elegante e moderna. E usa véu islâmico. "A minha professora na formação de educadora disse que acha o véu anti-higiênico", conta Fatma e adianta que concluiu a sua formação com a nota "muito bom". Mas, mesmo assim, não foi fácil para ela conseguir um emprego. E isso apesar de haver uma grande procura por educadores e educadoras – em Berlim e em toda a Alemanha. Mas, segundo ela, o véu acaba por ser um obstáculo. "Isso afeta-me, sinto-me oprimida."

Nationaler Diskriminierungs- und Rassismusmonitor 2025 in Berlin
Berlim, 20.03.2025: Discussão de pódio sobre racismo, organizada pela encarregada do Governo Federal para questões ligadas ao Racismo, Ferda Ataman (na foto: segunda à direita)Foto: Hans Pfeifer/DW

Hanna é negra e também vive em Berlim. "Há certos bairros onde não me atrevo a ir." Quando viaja de metro com os seus filhos, ela conta que regularmente recebe "comentários estúpidos", como ela os chama. Por causa dos seus filhos. E por causa da sua pele e do seu cabelo escuro. "Dizem-me que devo voltar para o meu país." É visível como esses ataques a ferem, especialmente quando acontecem na frente dos filhos.

Se um jornalista em Berlim quiser conversar com mulheres sobre as suas experiências pessoais, não é preciso procurar muito. Os exemplos saem naturalmente das pessoas.

Experiências de racismo não são um acaso

"As experiências de discriminação não acontecem por acaso, mas geralmente com base em atribuições racistas", explica Aylin Mengi, do Centro Alemão para Pesquisa de Integração e Migração. Ela é co-autora do monitor de racismo, publicado pelo Centro Alemão para Pesquisa de Integração e Migração.

Os cientistas entrevistaram quase 10.000 pessoas em todo o país. É uma das mais abrangentes recolhas de dados sobre racismo e discriminação na Alemanha.

Os resultados do relatório atual, de março de 2025, mostram que: as pessoas mais afetadas são aquelas que são vistas pelos outros como migrantes ou muçulmanos – quer o sejam ou não. Algumas, porque usam véu, como Fatma. Ou por causa da sua cor de pele. Ou porque, como Hanna, têm cabelo escuro. Mais de metade das pessoas marcadas como raciais sofrem discriminação no dia-a-dia – pelo menos uma vez por mês.

Dr. Cihan Sinanoglu
Dr. Cihan Sinanoglu, diretor do "Monitor Nacional do Racismo", com sede em Berlim, Alemanha.Foto: DeZIM-Institut

"O racismo está a tornar-se mais subtil"

As pessoas mais afetadas são as mulheres muçulmanas e as pessoas negras: mais de 60% delas experienciam discriminação regularmente no seu quotidiano, segundo os resultados do relatório.

"Vemos que as experiências de discriminação na sociedade alemã estão desigualmente distribuídas", explica Cihan Sinanoğlu numa entrevista à DW. Ele é o responsável pelo monitor de racismo. "E vemos que o racismo na Alemanha está a tornar-se mais subtil e a adaptar-se às normas sociais." Na sociedade maioritária, ainda é comum a ideia de que as minorias étnicas e religiosas fazem exigências políticas em excesso, resume Sinanoğlu. "Isso mostra que certos grupos sociais ainda têm os seus direitos políticos negados. Mais de um quinto da população alemã tem atitudes racistas enraizadas", explica.

Deutschland | Mutter mit Kopftuch und Kinderwagen
Ser mulher negra e muçulmana na Alemanha comporta um sério risco de ser confrontada com várias formas de racismo cotidiano.Foto: Caro/Hechtenberg/picture alliance

O racismo leva a tensões psicológicas

As experiências de preconceito e exclusão têm consequências profundas, explica o responsável pelo estudo, olhando para os resultados: "Os distúrbios de ansiedade e depressão aumentam quanto mais experiências de discriminação e racismo um indivíduo tiver. E a confiança nas instituições sociais diminui à medida em que o grau de discriminação aumenta", analisa Naika Foroutan, a responsável pelo centro de pesquisa, durante a apresentação do monitor de dados. 

A responsável pela área de Antidiscriminação, Ferda Ataman, vê nos resultados dos mais recentes estudos sobre racismo um claro mandato para a política: "Na Alemanha, temos uma das leis antidiscriminação mais fracas. O estudo mostra claramente que as pessoas precisam de mais proteção", exige Ataman numa entrevista à DW.
Ela dirige esta exigência especialmente ao futuro governo federal, cujas negociações para a sua formação estão a decorrer em Berlim entre os partidos cristão-democrata e social-democrata.
 

A primeira deputada negra da Alemanha