O que os ucranianos esperam da cimeira entre Putin e Trump
14 de agosto de 2025Logo após o anúncio da reunião de 15 de agosto entre o Presidente dos EUA, Donald Trump, e o seu homólogo russo, Vladimir Putin, no Alasca, o chefe de Estado ucraniano, Volodymyr Zelensky, divulgou um vídeo alertando contra a exclusão do seu país das negociações: "Quaisquer decisões tomadas contra nós, quaisquer decisões tomadas sem a Ucrânia, são decisões tomadas contra a paz. Não funcionarão."
Muitos ucranianos partilham esta opinião, de acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Internacional de Sociologia de Kiev no final de julho e início de agosto.
"Os ucranianos continuam abertos a negociações e a tomar decisões difíceis", disse Anton Hruschezkyj, da organização, à DW. "No entanto, a grande maioria continua a rejeitar as exigências de rendição da Ucrânia."
Maioria rejeita concessões à Rússia
De acordo com a pesquisa, 76% dos ucranianos rejeitam o "plano de paz" de Moscovo e a ideia de fazer concessões à Rússia. Ao mesmo tempo, 49% opõem-se ao plano de paz dos EUA, que implica garantias de segurança para a Ucrânia por parte dos países europeus, mas não dos EUA, reconhece a Crimeia como parte da Federação Russa, mantém o controlo russo sobre os territórios ocupados da Ucrânia e levanta as sanções contra a Rússia.
Os ucranianos não descartam que as próximas negociações entre Putin e Trump, que não contarão com a presença de representantes ucranianos ou europeus, tenham como objetivo forçar a Ucrânia a capitular.
"Os russos nunca mudaram a sua postura nas negociações e não o farão enquanto não sofrerem derrotas militares e políticas graves", afirmou Volodymyr Horbach, do Instituto Ucraniano para a Transformação da Eurásia Setentrional (INET), à DW.
A Ucrânia estava numa situação semelhante em março de 2025, diz Dmytro Levus, que dirige o Centro de Pesquisa Social Meridian da Ucrânia.
Na altura, Donald Trump acreditava que a guerra poderia ser rapidamente terminada por meio de negociações com a Rússia e da imposição de um acordo de paz baseado na rendição da Ucrânia.
No entanto, o levantamento das sanções contra a Rússia mostrou-se impossível, já que a maioria delas havia sido imposta pelos europeus, disse Levus.
Políticos ucranianos cautelosos com a cimeira
Iryna Herashchenko, uma das líderes do Partido da Solidariedade Europeia, da oposição ucraniana, afirma que a reunião entre Putin e Trump no Alasca representa um desafio para todo o sistema de segurança internacional. Se a Rússia, o agressor, for recompensada pelo seu ataque à Ucrânia, pela anexação de partes do país e pela prática de crimes de guerra, isso sinalizaria ao mundo inteiro que a violência pode ficar impune. É por isso que Herashchenko afirma que reconhecer a ocupação russa é uma linha vermelha que não deve ser ultrapassada.
"Isso abriria caminho para novas guerras, não só na nossa região", disse Herashchenko na rede social Telegram.
Já Danylo Hetmantsev, do partido ucraniano Servo do Povo, no poder, tem uma visão mais positiva das próximas negociações, dizendo que a cimeira finalmente revelará a posição da Rússia.
"Se houver mais uma vez tentativas de 'manobras diplomáticas' em vez de negociações produtivas, na reunião, isso provavelmente levará à imposição de sanções americanas severas, inclusive aos aliados da Rússia, que terão de pagar por apoiar o agressor, o que não lhes agradará", afirmou Hetmantsev no Telegram.
Ao mesmo tempo, especialistas ucranianos não descartam que os EUA tentem novamente chantagear a Ucrânia para que aceite condições inaceitáveis após a cimeira entre Putin e Trump.