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O que explica a expansão da insurgência em Cabo Delgado?

14 de agosto de 2025

Especialistas em segurança apontam as fragilidades do Estado, a busca por logística e as fragilidades de segurança como as causas que estão a levar os insurgentes para o sul da província de Cabo Delgado.

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Terrorismo em Cabo Delgado
Fragilidades do Estado, busca por logística e fragilidades de segurança são causas apontadas por especialistas.Foto: DW

Chegam em catadupa os relatos da expansão da insurgência do norte de Cabo Delgado para o sul da província. Nas últimas semanas, Ancuabe, Chiúre e Balama têm sido os alvos preferenciais dos insurgentes, que aterrorizam a população, inclusive com decapitações. As tradicionais áreas em que atuam também continuam a não ter paz.

Estes recentes casos de violência contradizem as garantias do Governo de que a situação está sob controlo. Mas o que terá causado a pulverização geográfica dos terroristas?

Em entrevista à DW, Calton Cadeado, especialista em segurança, apresenta possíveis causas:

"Primeiro, estão a explorar a nossa fragilidade. Segundo, estão em busca de logística. A coisa pode ficar mais completa se analisarmos a capacidade de financiamento que esse grupo tem, mas em termos de logística, há indicações que estão com problemas. O terceiro ponto é que, provavelmente, depois de muito tempo em que sofreram as ações ofensivas do Estado, reagruparam-se e voltaram para mostrar que ainda estão vivos", diz.

Onda de deslocados na província moçambicana de Cabo Delgado
Mais de 57 mil pessoas foram deslocadas desde 20 de julho na província moçambicana de Cabo Delgado, segundo dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM)Foto: ALFREDO ZUNIGA/AFP/Getty Images

Consolidam estas suposições o facto, por exemplo, dos insurgentes atacarem especificamente transportadores de mercadorias e áreas de produção agrícola, onde invariavelmente furtam alimentos e outros bens para o seu sustento.

"Governo tem-se esforçado bastante"

Já relativamente às respostas das Forças de Defesa e Segurança à ofensiva insurgente, as notícias são escassas. Será que a segurança da população em Cabo Delgado foi relegada para segundo plano?

Canuma Silvestre Canuma, diretor da organização "Paz de Moçambique", acredita que não. Na sua opinião, "o Governo tem-se esforçado bastante". E prova disso, diz, é que  "logo após o ataque, foi enviada uma equipa governamental que ajudou a criar centros de acolhimento".

No entanto, nota Canuma, "Moçambique não está suficientemente unido a Cabo Delgado. Quando estes ataques acontecem, parece que ocorreram noutro país; não há uma sensibilidade generalizada. As informações são escassas", lamenta.

Já o grupo Estado Islâmico (EI) aproveita-se, nos últimos dias, das incursões dos seus afiliados em Cabo Delgado para intensificar a propaganda.

No contexto desta expansão, os insurgentes têm igualmente incendiado instituições cristãs, sequestrado e recrutado cidadãos, incluindo crianças, e provocado a fuga massiva das populações para lugares mais seguros, que já começam a ser poucos, na província.

Como então? Luta antiterrorismo em Cabo Delgado corre bem?

Rufino Sitoi, especialista em terrorismo, que vai no mesmo diapasão da análise de Cadeado, acrescenta que outro fator que favorece os atacantes é a fragilidade de segurança.

"Uma das razões que faz com que grupos, sobretudo numa região como Cabo Delgado, se expandam são as dificuldades que enfrentam nos locais onde operam - estamos a falar de Macomia, Palma, Mocímboa da Praia. Quando enfrentam dificuldades nestas regiões, tendem a mover-se para outras onde o quadro de segurança seja mais fácil, onde possam conseguir logística e conseguir recrutas. Sabe-se que têm conseguido recrutas de forma forçada. Isso talvez tenha a ver com a mudança no quadro de segurança", explica.

Zona sul menos protegida

Uma destas zonas que tende a ser menos protegida, é precisamente o sul de Cabo Delgado. Isto, quando comparada, "com o norte onde estão as bases militares", explica.

Numa altura em que já aumentam os relatos sobre a presença de insurgentes no norte da vizinha província de Nampula, uma expansão para sul de Cabo Delgado acirra o medo e as preocupações com o alastramento da guerra para outros pontos do país.

O recrudescimento também ocorre numa altura em que a multinacional do gás TotalEnergies planeia retomar as operações na província, após um longo interregno no contexto da insurgência. Em 2021, a petrolífera suspendeu tudo invocando força maior.

Jornalista da DW Nádia Issufo
Nádia Issufo Jornalista da DW África