Alemanha e África: Sem plano e sem oportunidades?
22 de julho de 2025A China investe, a Índia age, os países do Golfo constroem. E a Alemanha? Muitas vezes apenas assiste. Enquanto a competição global pelos mercados e recursos de África se intensifica, a política alemã continua a faltar-lhe clareza estratégica. E está muito em jogo: oportunidades económicas, influência geopolítica e parcerias a longo prazo.
Isto tem de mudar, afirma agora o vice-chanceler Lars Klingbeil. Na reunião dos ministros das Finanças do G20, em Durban, África do Sul, destacou que os parceiros do Sul Global partilham o interesse por relações comerciais estáveis e pelo respeito pelo direito internacional. Agora, é necessário fortalecer as relações económicas entre a Alemanha e a África do Sul — assim como entre a Europa e África em geral.
Já alguns dias antes, a Câmara de Comércio e Indústria Alemã, em conjunto com a iniciativa da economia alemã para a África subsaariana (SAFRI), tinha exigido uma reorientação estratégica. A chamada "viragem africana” estava atrasada, disseram. Quão realista é este desejo de renovação? E o que impede que avance?
Pouco envolvimento alemão em África
Os números comerciais pintam um quadro desanimador: as exportações alemãs para a região estagnam há mais de uma década. Em 2014, ascenderam a 13,3 mil milhões de euros; dez anos depois, o valor era apenas de 14,2 mil milhões. Considerando a inflação, isto representa praticamente um crescimento zero.
Entretanto, a dinâmica económica nos países africanos existe mesmo. Estados como Tanzânia, Costa do Marfim ou Senegal registam há anos taxas de crescimento robustas. A procura por infraestruturas, bens de consumo e energia cresce em todo o continente, impulsionada pelo rápido crescimento populacional. Uma grande oportunidade para a economia exportadora alemã.
A nova corrida a África
Mas os maiores beneficiários deste desenvolvimento estão noutro lado: empresas da China, Índia, Turquia ou dos países do Golfo dominam cada vez mais os grandes contratos. A China multiplicou as suas exportações e investimentos em África nas últimas duas décadas. As empresas alemãs, por outro lado, perderam quota de mercado em muitos setores.
A discussão sobre uma "viragem africana” tem de ser entendida no contexto da nova situação geopolítica no continente, diz o cientista político Kai Koddenbrock, do Bard College em Berlim. "Está a decorrer uma nova corrida a África devido ao declínio relativo da UE e dos EUA.”
As riquezas do solo africano
Um exemplo particularmente claro é a corrida global pelos recursos críticos. África desempenha aqui um papel-chave. Seja cobalto, bauxita, lítio ou terras raras: muitos destes minerais estratégicos são já explorados no continente africano ou aí permanecem por descobrir. São indispensáveis para baterias, turbinas eólicas e motores elétricos — tecnologias centrais para a transformação verde e digital.
Enquanto a procura global aumenta, outros países, principalmente a China, asseguram o acesso a esses recursos, apoiados em projetos de infraestruturas a longo prazo e numa estratégia industrial clara.
O presidente dos EUA, Donald Trump, também lançou recentemente uma ofensiva de charme. A Alemanha, porém, arrisca ficar para trás. Especialmente os grupos industriais alemães já soam o alarme: mais de 60% da extração mundial de terras raras e quase 90% do seu refino estão concentrados na China. As recentes restrições às exportações impostas por Pequim revelaram subitamente a dependência da Europa.
A Alemanha tem muito para oferecer
O jogo está perdido? Christoph Kannengießer, diretor executivo da Associação África da Economia Alemã, diz: não. Ele considera que a Alemanha parte de uma posição vantajosa. Entre as nações industriais ocidentais, a República Federal goza ainda de excelente reputação em África, tanto política como economicamente.
"As nossas empresas fazem coisas muito especiais,” afirma Kannengießer numa entrevista à DW. Em vez de explorar matérias-primas, a economia alemã aposta sobretudo em investimentos greenfield, parcerias locais e construção de estruturas sustentáveis.
Muitas empresas alemãs são conhecidas por criar know-how e valor acrescentado localmente. A política africana da Alemanha é modesta, "e, numa altura em que os países africanos apostam cada vez mais na autonomia e na industrialização, isso pode ser uma vantagem competitiva decisiva,” diz o especialista.
Kannengießer defende que o governo alemão acelere finalmente o passo. Ainda falta uma estratégia africana coerente. A última foi aprovada apenas pouco antes das eleições — demasiado tarde para ter impacto. E uma estratégia deste tipo tem de ser orientadora por vários anos, acrescenta. A Alemanha precisa de um conceito ambicioso, diferenciado e, acima de tudo, mais rápido. "Temos de pôr um pouco mais de potência na estrada!”, exige.
Como poderá ser a viragem africana?
"Já se fez muito nos últimos dez anos,” afirma Tom Halgasch, fundador da empresa "Das Labor GmbH”, que desde 2011 opera laboratórios médicos na Guiné, Costa do Marfim e Togo. Mas observa que os países vizinhos da Alemanha — como Bélgica, Países Baixos ou França — frequentemente têm acesso mais facilitado. "Nesses países, o envolvimento económico em África faz parte da política externa. Se falta uma autorização, a embaixada também se envolve.”
Além disso, existem obstáculos práticos, como financiamento, questões de vistos ou ausência de acordos para evitar a dupla tributação. O empresário de Potsdam gostaria que a política alemã reforçasse a ligação entre comércio exterior, diplomacia e cooperação para o desenvolvimento.
Onde ainda falha
O maior impedimento ao maior envolvimento empresarial em África é o narrativo predominante, diz Christoph Kannengießer: o continente é visto como demasiado arriscado. Com consequências diretas: bancos exigem taxas de juro por vezes na casa dos dois dígitos ou recusam créditos quando faltam garantias ou estabilidade política. Aqui, o Estado pode intervir com instrumentos direcionados para proteger e facilitar investimentos, especialmente para médias empresas.
Também a componente política e económica de suporte precisa de mais atenção, sublinha Kannengießer: em vez de estratégias gerais, é preciso iniciativas diplomáticas específicas, que atuem de forma temática e regionalmente diferenciada, e ao mais alto nível político.
Que tal envolvimento seja bem-vindo é confirmado por Andries Oosthuizen, vice-embaixador da África do Sul em Berlim. A Alemanha continua a ser muito respeitada em África como parceira tecnológica e de formação. "Precisamos de investimentos em infraestruturas, porque no fundo também as empresas alemãs procuram sobretudo estabilidade e segurança política,” diz Oosthuizen à DW.
Parceria de igual para igual?
Mas o envolvimento económico por si só não chega. Chega uma pergunta fundamental: como entende a Alemanha o seu papel em África — como parceira de igual para igual, investidora ou como garantidora de matérias-primas?
Kai Koddenbrock, do Bard College Berlin, duvida dessa pretensão de cooperação equilibrada. No centro dos interesses alemães estão sobretudo cadeias de fornecimento estáveis e acesso barato a recursos. "Partir do princípio que a Alemanha tem um interesse real num continente africano forte, que lhe possa impor preços mais altos, considero irrealista,” afirma.
Ser um parceiro credível em África
Os investimentos só são verdadeiramente parceriais se respeitarem os objetivos económicos dos países africanos. Isso significa processamento local, criação de indústrias próprias e independência económica face a interesses europeus.
"Se é mesmo uma questão de igualdade, a Europa também tem de estar disposta a aceitar blocos regionais no Sul Global e a pagar preços mais altos por produtos africanos transformados ou acabados,” afirma Koddenbrock. "Temos de nos questionar que tipo de economia queremos, na Alemanha e globalmente.”
Este é um momento decisivo. A Alemanha ainda tem oportunidade para se afirmar em África como parceiro credível — económica, política e tecnologicamente. Mas, para isso, concordam todos, são precisos mais do que promessas.