Aumentam medicamentos falsificados contra o cancro em África
2 de julho de 2025A conclusão resulta de uma investigação norte-americana e pan-africana publicada recentemente na revista The Lancet Global Health. Os investigadores recolheram informações sobre as dosagens em 12 hospitais e 25 farmácias da Etiópia, Quénia, Malawi e Camarões.
Os resultados "não surpreendem" Lutz Heide, um farmacêutico da Universidade de Tübingen, na Alemanha, que passou a última década a investigar medicamentos de baixa qualidade e falsificados. Mas ficou "muito satisfeito por finalmente ter sido publicado um relatório tão sistemático sobre medicamentos anticancerígenos. É o primeiro estudo realmente significativo nesta área em quatro países africanos."
"Mostram que alguns dos medicamentos contêm apenas 20 ou 30% da quantidade do ingrediente farmacêutico ativo indicado no rótulo. Por isso, não serão capazes de curar o doente e isso é motivo de grande preocupação", acrescenta.
Foram testados cerca de 200 produtos únicos de várias marcas e verificou-se que cerca de 17% - aproximadamente um em cada seis - apresentavam níveis incorretos de ingredientes ativos.
As causas têm de ser resolvidas, mas não é fácil
"Há muitas causas possíveis para os produtos de má qualidade", disse à DW Marya Lieberman, da Universidade de Notre Dame, nos EUA, a investigadora principal do estudo. As causas podem incluir falhas no processo de fabrico ou a deterioração do produto devido a más condições de armazenamento. Mas alguns medicamentos também são contrafeitos.
É necessário melhorar a regulamentação e fornecer tecnologias de rastreio e formação, defende a investigadora. "Os medicamentos contra o cancro são difíceis de analisar porque são muito tóxicos e muitos laboratórios não o querem fazer. Apesar de vários desses países terem laboratórios bastante bons, ainda não têm as instalações necessárias para o manuseamento seguro dos medicamentos de quimioterapia."
Impedir o fabrico e a venda dos medicamentos com baixa qualidade ou falsificados é a principal medida preventiva, mas quando os produtos defeituosos chegam ao mercado, programas de vigilância e resposta podem impedir que os medicamentos cheguem aos doentes.
Na sequência da investigação, a Organização Mundial da Saúde (OMS) disse à DW que está a trabalhar com a Etiópia, Quénia, Malawi e Camarões para resolver o problema.
Prevenção, deteção e resposta
Em 2017, a revisão da OMS sobre medicamentos de baixa qualidade e falsificados ofereceu três soluções baseadas na prevenção, deteção e resposta.
Interromper o fabrico e a venda desses medicamentos é a principal medida preventiva, mas quando os produtos defeituosos chegam ao mercado, os programas de vigilância e resposta podem impedir que os medicamentos de má qualidade cheguem aos doentes.
Mas a reforma regulamentar pretendida por especialistas e autoridades leva tempo. Estão a ser desenvolvidas soluções mais imediatas sob a forma de melhores tecnologias de rastreio.
Lieberman está a trabalhar num "laboratório de papel", uma espécie de teste que pode ser utilizado por profissionais com formação para testar quimicamente a qualidade de um produto antes de ser administrado a um doente. Estão também a ser desenvolvidas outras tecnologias laboratoriais.
E nem tudo são más notícias. Embora uma proporção significativa dos medicamentos que circulam nas instalações médicas dos quatro países africanos seja defeituosa, a maioria dos produtos testados atende aos padrões exigidos.
"Em dois terços dos fornecedores, todos os produtos eram de boa qualidade, o que significa que existem fornecedores de boa qualidade", afirma o farmacêutico Lutz Heide. "Mas alguns deles têm realmente um número elevado de amostras com defeito", concluiu.