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Direito e JustiçaSão Tomé e Príncipe

Não há "provas sérias" sobre tentativa de golpe em São Tomé

4 de junho de 2025

Peritos concluem que "não existem provas convincentes" sobre a alegada tentativa de golpe de Estado em São Tomé e Príncipe, declarada pelas autoridades. O que irá acontecer aos responsáveis pela morte de quatro civis?

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Militares das Forças Armadas nas ruas de São Tomé
Militares das Forças Armadas patrulham ruas de São Tomé após alegada tentativa de golpe de Estado, em 25 de novembro de 2022Foto: Ramusel Graca/DW

Recentemente tornado público, o relatório da Comunidade Económica dos Estados da África Central (CEEAC) sobre os acontecimentos do 25 de novembro de 2022 "não tem um conteúdo jurídico vinculativo". Trata-se de "um documento dirigido ao Presidente da República de um Estado que integra a organização regional", segundo as explicações do jurista jubilado Carlos Semedo, que trabalhou no primeiro processo judicial despoletado pelo assalto ao quartel das Forças Armadas de São Tomé e Príncipe, considerado "tentativa de golpe de Estado" pelo Governo do então primeiro-ministro Patrice Trovoada.

"O que esse relatório diz, e muito claramente, é que todos os elementos que recolheu – interrogaram pessoas, fizeram inquéritos –, não permite concluir com segurança e certeza de que houve, de facto, um golpe de Estado, ou sequer uma tentativa, porque o próprio relatório diz que quatro cidadãos desarmados não invadiram nem romperam nem quebraram, foram metidos no quartel", afirma o especialista.

De acordo com Carlos Semedo, que representa os familiares das quatro vítimas mortas no quartel, o relatório é claro quanto à responsabilização dos atos ocorridos a 25 de novembro de 2022, uma vez que "as Forças Armadas estão subordinadas ao poder político".

"Há de facto uma responsabilidade das altas chefias militares que permaneceram no quartel – o comandante do quartel, o inspetor-geral, o vice-chefe do Estado Maior –, na morte dessas pessoas, é isso que esse relatório vem dizer de uma forma muito clara."

Patrice Trovoada
Assalto ao quartel das Forças Armadas de São Tomé foi considerado uma "tentativa de golpe de Estado" pelo Governo do então primeiro-ministro Patrice Trovoada TrovoadaFoto: Ramusel Graça/DW

Neste contexto, insiste que caberá ao poder político ou ao Estado são-tomense tomar providências para que o julgamento deste caso seja feito corretamente. "Não se perdeu nada ainda, sim. Os julgamentos vão ter que se fazer. E o Governo de Américo Ramos não pode fugir às suas responsabilidades", sublinha.

O advogado de acusação particular contra os militares assegura, em entrevista à DW, que "o processo não vai acabar nem vai morrer". Por outro lado, explica, o Estado são-tomense "tem de providenciar os mecanismos financeiros para ressarcir os grandes danos, o dano moral, o dano da morte das pessoas; é isso que está plasmado nesse relatório.”

Interrogações da Comissão dos Direitos Humanos da ONU

O mais importante que o documento da CEEAC traz é o relatório da Comissão dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), que tem sido escondido, segundo Carlos Semedo. O advogado, que não desiste deste processo, diz que o Estado são-tomense tem de responder às dez recomendações e interrogações que a missão dos Direitos Humanos da ONU formula no seu relatório sobre as mortes e os acontecimentos do 25 de novembro de 2022.

"Há responsabilidade política, há responsabilidade material dos membros do Governo, primeiro-ministro incluído. Portanto, são responsáveis e poderão ser condenados pelo único instrumento que tem força de os condenar, que são precisamente os organismos da Comissão de Direitos Humanos da ONU", explica Semedo.

Por fim, o advogado lembra que São Tomé e Príncipe aprovou e ratificou o Pacto e a Carta Internacional dos Direitos do Homem, bem como o Tratado de Roma que institui o Tribunal Penal Internacional.

Mas até hoje, o país ainda não depositou nenhum destes instrumentos nos respetivos organismos. "O que quer dizer que, embora possamos estar vinculados, falta dar o último passo. E eles fazem isso de propósito", lamentou em tom de apelo ao Estado são-tomense.

Informação credível e histórias inspiradoras

João Carlos Correspondente da DW África em Portugal