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CriminalidadeÁfrica

Nigéria: Por que as fugas das prisões continuam a acontecer?

2 de abril de 2025

Nos últimos anos, a Nigéria tem assistido a um padrão preocupante de fuga de milhares de reclusos de estabelecimentos prisionais. Falha dos serviços secretos pode estar na origem, entende investigador.

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Nigéria Sokoto 2025 | Pessoas diante do Centro Prisional de Segurança Média
Uma prisão em Sokoto, NigériaFoto: Abiodun Jamiu/DW

Dados compilados pela Al Jazeera mostram que, desde 2010, mais de 7000 pessoas fugiram de prisões em todo o país. O incidente mais recente ocorreu no final de março, quando 12 reclusos fugiram de um centro de detenção do estado de Kogi.

Os críticos justificam os números elevados de fugas com a sobrelotação das prisões, aliadas ao mau tratamento dos reclusos e à falta de equipamento de segurança.

Mas Malik Samuel, investigador sénior do grupo de reflexão Good Governance Africa, sediado em Abuja, tem outra visão. Para ele,as fugas levantam questões sobre falhas de segurança devidas, em parte, à corrupção generalizada no sistema prisional.

"Para além do facto de algumas das prisões terem sido construídas há décadas e não terem sido concebidas para albergar o número de detidos que albergam atualmente, as falhas nos serviços de informação também são responsáveis pelos ataques nas nossas prisões, especialmente naquelas onde se encontram detidos de alto nível, como antigos membros do Boko Haram", explica. 

O investigador lembra a fuga que aconteceu no estabelecimento prisional de Kuje, perto de Abuja, há cerca de dois anos.

"Foi revelado que um detido tinha acesso a um telemóvel com o qual comunicava com membros do grupo [Boko Haram] no exterior. Por que razão foi permitido a um detido o acesso a um telemóvel? E porque é que a sua comunicação com membros do grupo não foi monitorizada?", questiona Samuel. 

Para o investigador, "tudo isto aponta para uma falha dos serviços secretos”.

Soldados com a bandeira do Boko Haram
Há prisioneiros que se comunicam por telemóvel com o grupo Boko HaramFoto: REUTERS

Solução passa por melhor coordenação?

Funke Adeoye é o diretor executivo da Hope Behind Bars Africa, uma organização sem fins lucrativos que promove a reforma da justiça penal na Nigéria. E defende que é necessária uma maior cooperação entre as agências de segurança.

"Sozinho, o Serviço Correcional da Nigéria pode não ser capaz de resolver esta questão. Talvez fosse necessário haver uma melhor coordenação entre as agências de segurança, e mesmo com os governos estaduais, para analisar estas questões", defende.

Funke Adeoye lembra que "quando ocorrem fugas de prisões, é a sociedade que está em risco, não são os estabelecimentos prisionais”.

Para além de estarem sobrelotadas, muitas das priões da Nigéria têm infraestruturas obsoletas. Dados divulgados em março pelo Serviço Correcional da Nigéria, a agência responsável pela gestão do sistema prisional do país, mostram que dois terços dos reclusos estão ainda a aguardar julgamento – o que indica também problemas no sistema judicial do país.

Mais de 40% dos presos em África estão em pré-julgamento