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Moçambique fecha três rádios por "interferência aérea"

DW (Deutsche Welle)
12 de fevereiro de 2025

Decisão surpreende emissoras, que operam há anos sem problemas. Autoridade alega risco para aeronaves, mas rádios denunciam falta de aviso prévio e temem censura. Caso levanta dúvidas sobre liberdade de imprensa no país.

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Rádio Encontro em Nampula, Moçambique
Responsáveis das rádios contestam a decisão, apontam falta de aviso prévio e temem prejuízosFoto: DW/J. Beck

Três emissoras de rádio religiosas em Nampula, norte de Moçambique, foram abruptamente retiradas do ar na terça-feira (11.02) por ordem da Autoridade Reguladora das Comunicações Moçambicana. A decisão, justificada por alegadas interferências na navegação aérea, apanhou de surpresa os responsáveis das rádios, que questionam a falta de um aviso prévio e temem impactos significativos para os ouvintes e anunciantes.

O encerramento das emissões das rádios Haq, de orientação islâmica, e das cristãs Rádio Vida e Rádio Encontro tem impactos significativos para ouvintes e anunciantes, alertam os responsáveis das emissoras.

O coordenador da Rádio Vida, André Kizito, criticou a falta de clareza na comunicação do Instituto Nacional das Comunicações de Moçambique (INCM), salientando que a emissora opera na região desde 1992.

“No documento que nos foi enviado, apenas se menciona interferências na navegação aérea. No entanto, não sabemos concretamente o que isso significa. A Rádio Vida está no ar há mais de 30 anos em Nampula”, afirmou, expressando indignação com a suspensão da emissora.

Num comunicado de imprensa emitido esta quarta-feira, o INCM esclarece que a suspensão de três emissoras se deve a denúncia feita pela empresa Aeroportos de Moçambique sobre a “interferência de sinais de rádio com as comunicações da torre de controlo”, e com as aeronaves em aproximação ao aeroporto de Nampula.

Moçambique - Nampula Rádio Vida
André Kizito: “A suspensão dos emissores priva dos ouvintes, em Nampula, de informações essenciais e prejudica relação com anunciantes”Foto: DW/J. Beck

O documento destaca também que uma equipa técnica da instituição identificou as rádios Haq, Encontro e a rádio Vida como fontes que geram “um sinal que causa interferência nas comunicações do serviço móvel aeronáutico, dificultando a comunicação da torre de controlo com as aeronaves.”

“Dado ao perigo que esta situação representa para vidas humanas, o INCM notificou as três rádios visadas sobre a interferência identifica e ordenou o desligamento temporário das emissões com efeitos imediatos, enquanto perdurar a interferência”, refere a nota distribuída à imprensa.

Mas, o diretor-adjunto da Rádio Haq, Abdul Magid António, contestou a lógica da alegação, sublinhando que a frequência em uso pela emissora foi atribuída pelo próprio regulador.

“Foram eles (o INCM) que nos concederam a frequência que utilizamos. Operamos desde 2005 e nunca tivemos este problema”, afirmou.

O Instituto Nacional das Comunicações de Moçambique frisa no seu comunicado que a interferência do sinal de navegação aérea representa perigo para as vidas humanas.

Moçambique Aeroporto de Nampula
Especialistas questionam se a medida era realmente necessária ou se há outros interesses por trás do fecho das emissorasFoto: DW/J. Beck

Além do impacto no acesso à informação pelos ouvintes, a suspensão das transmissões trouxe prejuízos financeiros às rádios, afetando contratos publicitários. André Kizito alertou para as dificuldades criadas pela decisão inesperada.

“Os parceiros que temos pediram-nos para passar os seus spots publicitários porque tinham algum objetivo com isso. Então, esta ordem assim, de surpresa, sem pré-aviso, é evidente que cria constrangimentos.”, lamentou.

A atuação do regulador também é questionada pelo presidente do Instituto para a Comunicação Social da África Austral (MISA Moçambique) em Nampula, Aunício da Silva.

Ele sugeriu que o problema já era conhecido e poderia ter sido resolvido sem a suspensão.

“Até onde sei, esta questão não surgiu agora. Já houve pedidos da autoridade reguladora para melhorias no sinal, mas, aparentemente, como não foram cumpridas, avançou-se com esta medida [de encerramento]”, afirmou.

A decisão levantou ainda especulações sobre uma possível motivação política. “Acredito que o problema das interferências poderia ter sido resolvido com o avanço das tecnologias de informação e comunicação, evitando esta situação. Não sabemos ao certo por que isso não aconteceu, o que alimenta suspeitas de perseguição política”, apontou Aunício da Silva.

As direções das rádios suspensas têm uma reunião agendada com o INCM na quinta-feira (13.02) para discutir uma possível solução.

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