Nampula: ONG processa polícias por tiro contra jovem
27 de agosto de 2025A organização não-governamental Koshukuru interpôs uma ação judicial contra quatro agentes da Polícia da República de Moçambique (PRM), suspeitos de terem alvejado deliberadamente um jovem na via pública, em Nampula.
O incidente ocorreu na madrugada de 15 de agosto, quando João Júnior, residente no bairro de Muhala Expansão, seguia de táxi-mota e terá ignorado uma ordem de paragem emitida pela polícia.
Segundo o diretor executivo da Koshukuru, Gamito dos Santos, o caso configura uma "violação grosseira dos direitos humanos".
A organização considera que os disparos não se justificam e está a prestar apoio jurídico à família. "Ninguém tem o direito de disparar uma arma só porque, alegadamente, o jovem não parou quando a polícia lhe ordenou que o fizesse”, declarou.
Vítima "desobedeceu a ordem de parar"
A polícia reconhece o uso da arma de fogo, mas alega que o comportamento da vítima levantou suspeitas.
Rosa Chaúque, porta-voz do Comando Provincial em Nampula, explicou que "devido à não obediência da ordem de paragem por parte do mototaxista, este gerou suspeitas quanto aos seus reais intentos", justificando os disparos.
O jovem sofreu ferimentos em ambos os pés e fraturas no tornozelo direito, tendo sido internado no Hospital Central de Nampula. As despesas médicas, que já ultrapassam os 200 mil meticais (2690 euros), estão a ser suportadas integralmente pela família.
Embora a polícia afirme estar a prestar assistência, os familiares contestam.
O irmão mais velho da vítima, José Américo, relata que a única ajuda recebida consistiu num "saco de plástico contendo dois litros de sumo, um litro e meio de água e dois pacotes de bolacha", oferecidos no dia seguinte ao incidente.
"Se isto é assistência, então não sei o que será", criticou, acrescentando que os encargos hospitalares recaem exclusivamente sobre a família.
Sociedade civil exige justiça
Face à gravidade do caso, a Koshukuru juntou-se ao processo em curso no Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC), através da sua equipa de advogados.
A ONG promete lutar até à responsabilização criminal e disciplinar dos agentes envolvidos.
A porta-voz da PRM em Nampula garantiu, contudo, que "caso se prove o envolvimento dos agentes, os mesmos serão processados disciplinarmente e criminalmente", reafirmando que a corporação "não tolera práticas criminosas”.