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Na RENAMO, "quem critica é afastado"

29 de agosto de 2025

A denúncia é de Torina Francisco, que diz que ela e outros oito membros do partido foram afastados ilegalmente da Assembleia Municipal da Matola por contestarem Ossufo Momade. Grupo apresentou queixa na Justiça.

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Bandeira da RENAMO, Moçambique
Nove membros da Assembleia Municipal da Matola alegam terem sido afastados dos seus cargos por contestarem MomadeFoto: Getty Images/G. Guercia

Cresce a tensão na Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), entre a direção liderada por Ossufo Momade e militantes que se dizem perseguidos e afastados de forma ilegal.

O caso mais recente terá ocorrido na cidade da Matola, onde nove membros da Assembleia Municipal alegam terem sido afastados dos seus cargos por contestarem Momade.

Uma das vozes mais críticas é a de Torina Francisco, antiga chefe do Departamento de Informação do partido da oposição na Matola, que afirma ter sido afastada da Assembleia Municipal sem nunca ter assinado a renúncia ao mandato.

Torina Francisco garante que "tudo foi feito na clandestinidade".

"Nunca fomos chamados pela presidente para sermos ouvidos. Recebemos apenas uma mensagem no grupo da bancada a dizer que, a partir de 16 de julho, já não éramos membros da Assembleia Municipal", conta.

Torina Francisco alega que "não os quiseram atender".

"Além de nos afastarem da Assembleia, começaram também a destituir colegas dos cargos internos no partido", conta a militante, que sublinha que ela e os colegas foram eleitos pelo povo e que ninguém tem o direito de lhes retirar esse mandato.

Ossufo Momade, líder da RENAMO
Até ao momento, nem Ossufo Momade, nem a restante direção do partido reagiram às acusaçõesFoto: Nádia Issufo/DW

Para além disso, acrescenta, a direção do partido tem substituído os eleitos por "pessoas próximas da liderança", alguns até familiares.

"É chantagem política. Isto não é democracia. Neste partido, quem critica é afastado", lamenta.

Torina Francisco acusa ainda a direção de Ossufo Momade de falsificar documentos para os suspender das funções.

"Falsificaram as nossas assinaturas. Porque, de acordo com as informações tidas na Assembleia Municipal, dizem que nós assinámos a nossa própria renúncia. Então, perguntámos à presidente: Fomos nós mesmos que assinámos e viemos entregar os documentos? Ela diz que não".

A DW contactou a direção do partido na Matola, mas esta remeteu explicações para a direção central. Até ao momento, nem Ossufo Momade nem a restante direção do partido reagiram a estas acusações.

Caso em Nampula

Em julho, a DW reportou um caso semelhante na Assembleia Municipal de Nampula. Pedro Casimiro, membro da Assembleia, denunciou que estava a ser afastado do seu cargo devido às críticas que fez à liderança de Momade. Na altura, a delegada provincial da RENAMO, Abiba Abá, frisou que qualquer membro da Assembleia Municipal pode ser afastado se contrariar as diretivas do partido.

Os contestatários na Matola acusam Ossufo Momade de matar a democracia interna no partido e não aceitar o contraditório, apenas o "sim, senhor".

João Machava, membro dos ex-guerrilheiros, denuncia que há retaliação não só a membros das assembleias municipais, mas também a antigos combatentes e até generais respeitados. Segundo ele, "a perseguição é grande".

"Não é só contra membros das assembleias municipais, também contra outros militantes que nem sequer ocupam cargos no Estado. Quando tentamos reunir com desmobilizados, chamam a polícia. Já não conseguimos viajar em segurança".

João Machava insiste que Ossufo Momade não tem perfil para liderar o partido. "Ele só tem cabeça para segurar o corpo, não para pensar. Não sabe liderar", afirma.

O grupo de contestatários na Matola, composto por nove membros, garante que já submeteu queixas à Procuradoria, ao Tribunal e à própria Assembleia. Querem responsabilizar judicialmente a presidente da Assembleia Municipal por ter validado o processo de afastamento.

Manica: Ex-guerrilheiros da RENAMO defendem Momade

Braima Darame - Jornalista DW
Braima Darame Jornalista da DW África
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