"Sem Mondlane teremos um PODEMOS à deriva e a fazer pouco"
5 de fevereiro de 2025O assessor de Venâncio Mondlane anunciou o fim da relação com o PODEMOS, partido que suportou a candidatura do ex-candidato presidencial nas últimas eleições gerais.
Dinis Tivane, através de um comunicado intitulado "Nem tudo na vida é dinheiro e posições", acusa o partido liderado por Albino Forquilha "de traição" e de "agir contra a vontade do povo" ao aceitar tomar posse na Assembleia da República.
"Urge clarificar que a nossa luta política é, fundamentalmente, pela salvação de Moçambique, não estando em causa o alcance obsessivo de bens materiais ou qualquer vantagem financeira com base no martírio do povo", lê-se no documento.
Em entrevista à DW, o analista moçambicano José Malaire, sublinha que "sem Mondlane ninguém ouviria falar do PODEMOS". Com a rotura, o partido "perde a legitimidade popular", acrescenta.
DW África: Que impacto terá esta rotura entre o PODEMOS e Venâncio Mondlane?
José Malaire (JM): Daqui para frente, numa primeira fase, vamos assistir a mais 'teatro'. Venâncio Mondlane vai ficar mais isolado, o PODEMOS vai querer explorar o seu poder enquanto segunda maior bancada da Assembleia da República e, obviamente, quem tem mais a perder somos todos nós, os moçambicanos. O PODEMOS, muito provavelmente, não vai representar o povo moçambicano, porque o povo moçambicano chega ao partido por via de Mondlane. Assim, o PODEMOS perde a legitimidade popular porque esta popularidade ou legitimidade popular está sempre atrelada a Venâncio Mondlane. Ou seja, teremos um PODEMOS à deriva, muito provavelmente a fazer pouco e a degenerar-se dentro da Assembleia da República.
DW África: E em relação a Venâncio Mondlane, qual será o seu futuro político?
JM: Eu sempre defendi que Mondlane tem de criar o seu partido político. E, se em 2023, tivesse criado o seu partido político, depois de ter sido sabotado pela RENAMO, hoje teria um partido com representação forte na Assembleia da República. Seria o próprio Mondlane líder da oposição hoje em Moçambique e, mais do que isso, muito provavelmente, teria mais condições de discutir a questão da legalidade ou ilegalidade das eleições de 9 de outubro.
DW África: Na sua opinião, qual foi o ponto principal de discórdia entre Mondlane e o partido PODEMOS?
JM: O ponto de divergência tem que ver com o que suporta o PODEMOS. O partido é suportado por jovens anónimos, muito dos eleitos a deputado na Assembleia da República são anónimos. E, queiramos ou não, muita gente quer alguma mobilidade social. Muitos destes eleitos - anónimos que estavam nas listas do PODEMOS e que agora tornaram-se individualidades - , também querem aceder ao poder. Até porque a política é isso, é conquistar e manter o poder.
DW África: O que está a querer dizer é que o PODEMOS aproveitou-se da imagem e da popularidade de Venâncio Mondlane para chegar ao poder?
JM: É um facto e, ao mesmo tempo, uma pena para Venâncio Mondlane. O ponto é que sem Mondlane, ninguém se lembraria ou ouviria falar do PODEMOS. Mondlane sabe que foi ele que deu visibilidade a Albino Forquilha, ao seu partido, e deu poder a todos aqueles deputados que estão hoje na bancada parlamentar do PODEMOS. Aliás, daqui para frente, este é o desafio: se o PODEMOS não fizer algo como partido, sem Mondlane, teremos a situação de uma equipa que torna-se campeã, "do nada”, e depois desaparece do campeonato.