Segurança pode ter dominado visita de Chapo à Tanzânia
9 de maio de 2025Embora a Presidência moçambicana não tenha destacado a segurança como principal tema da agenda de Daniel Chapo na Tanzânia, há um entendimento generalizado de que essa foi uma das preocupações que o estadista moçambicano apresentou à sua homóloga Samia Hassan. Afinal, é a partir da extensa fronteira porosa da Tanzânia com Moçambique que parte dos extremistas entra para a província de Cabo Delgado.
Segundo Borges Nhamirre, pesquisador do Institute for Security Studies Africa, Chapo foi procurar um aliado para travar o acesso:
"A Tanzânia é a origem dos chamados combatentes estrangeiros que estão em Cabo Delgado, embora seja muito difícil, em termos de jurisdição do Estado. A Tanzânia é muito importante para a segurança de Cabo Delgado para dar apoio na formação, operações conjuntas e destacamento das forças de Defesa da Tanzânia, que estão em Nangade, que é a parte mais visível. Mas também em termos de ajuda na inteligência para tentar evitar que os extremistas se organizem na Tanzânia e alimentem o conflito em Cabo Delgado," disse Nhamirre.
O pesquisador João Feijó, que admite ter poucos detalhes da visita de Chapo, partilha da mesma opinião:
"Acho que foi na linha de policiamento da fronteira com a Tanzânia, garantindo que estes grupos não tenham organização logística, ideológica, de formação, arrolamento e de recrutamento do outro lado da fronteira, onde o movimento jihadista está adormecido, mas onde há potencial de recrutamento," afirmou Feijó.
Cooperação regional
A visita, contudo, não surpreende Nhamirre nem muitos moçambicanos, tendo em conta que os dois países são considerados "aliados naturais". Porém, esse discurso parece ter perdido força para Feijó, que levanta dúvidas sobre os reais interesses da Tanzânia.
"Mas eu penso que a Tanzânia está mais confortável com isto porque mantém-no [o problema] em Moçambique, empurra a rebeldia para Moçambique. Assim ficam mais confortáveis a lançarem alguns projetos de gás, enquanto Moçambiquefica com o problema da insurgência. Estes grupos normalmente procuram estados frágeis a reforçar e explorar contradições sociais. E a Tanzânia nalgum momento esteve confortável com isto porque varreu o problema para Moçambique," sublinhou o investigador.
Entretanto, chegam do norte de Moçambique relatos de algum relaxamento por parte das forças ruandesas. Nhamirre, no entanto, aponta vários fatores que justificam essa posição - como a natureza da missão, que não é de proteção popular, tarefa essa atribuída às forças moçambicanas.
"São forças especiais que protegem interesses estratégicos do gás," justificou o pesquisador.
Equilíbrio estratégico
Uma eventual intensificação da cooperação com a Tanzânia pode vir a abalar as relações entre Moçambique e Ruanda no campo da segurança? Para Nhamirre, a longo prazo, sim.
"Esse é um segundo, terceiro ou quarto passo," considerou.
As forças ruandesas estão em Moçambique desde 2020–2021, a apoiar o país no combate à insurgência iniciada em 2017, com o respaldo da União Europeia e da França, que tem a TotalEnergies a explorar um dos maiores depósitos de gás de África em Cabo Delgado. Diante disso, Feijó vê como improvável a saída de Ruanda de território moçambicano.
"Acho que a substituição dos ruandeses não se coloca. Acho que Moçambique não tem qualquer capacidade de decidir se vai ou não continuar com os ruandeses, pois os ruandeses são imposição do grande capital que identificou o Ruanda como polícia que vai garantir a segurança dos investimentos, que sabem que são produtores de exclusão social e de tensões sociais. Não creio que o Ruanda alguma vez vá sair de Moçambique e, se saírem, acredito que eles próprios vão continuar a apoiar o grupo rebelde com objetivo de manter o problema e depois apresentarem a solução," disse.
A questão que fica é: por que razão Chapo pode estar a virar as baterias para a Tanzânia em matéria de segurança? Para Borges Nhamirre, trata-se de uma jogada estratégica.
"Esta é uma questão que não podemos ter uma resposta imediata, porque é uma questão estratégica e estas são diferentes de questões táticas. Questões táticas são imediatas e as estratégias são de longo prazo. O cenário mais sólido e fácil de sustentar é que o destacamento de forças do Ruanda para Cabo Delgado não é um negócio do Estado moçambicano, mas é um negócio do Presidente Nyusi," analisou.
Tanto é que esse destacamento nem sequer passou pelo Parlamento. Quanto à possibilidade de repetição dessa ilegalidade com o novo Presidente, Nhamirre descarta, sublinhando o caráter formal da visita de Estado — diferente das visitas surpresa que Nyusi fazia a Paul Kagame, em quintas privadas, para discutir assuntos de Estado.