Moçambique retoma negociações para aumentos salariais
5 de agosto de 2025Empregadores, sindicatos e o Governo moçambicano retomaram ontem (04.08) as negociações sobre os salários mínimos setoriais.
A reativação da Comissão Consultiva do Trabalho marca o reinício de um processo suspenso em abril, face aos efeitos dasmanifestações pós-eleitorais na economia nacional.
A principal exigência dos trabalhadores é clara: Um reajuste salarial que alivie o peso crescente do custo de vida.
Com a inflação a pressionar os orçamentos familiares, a proposta sindical aponta para um salário mínimo universal de 42 mil meticais (cerca de 613 euros), valor que, segundo a Organização dos Trabalhadores Moçambicanos-Central Sindical (OTM-CS), permitiria cobrir as despesas básicas de uma família.
Casos como o de Chimione Galimba, vigilante numa empresa de segurança privada em Tete, ilustram a situação. "Ganho quatro mil meticais por mês [58 euros], mas esse salário não chega até ao fim do mês. Tenho de fazer biscates depois do turno para alimentar as crianças", afirma.
O seu rendimento está significativamente abaixo do mínimo setorial, fixado em 8.190 meticais (110,65 euros) para 2024.
Trabalhadores exigem mais
Na mesma cidade, Eusébio Luciano, operário numa fábrica de tabaco, enfrenta dilemas semelhantes. Sem divulgar o salário, afirma apenas que está "a patinar". Pai de oito filhos, acredita que um salário de 15 mil meticais (219 euros) traria algum alívio: "A matemática sairia bem para pagar renda, educação e alimentação."
Alguns trabalhadores vão mais longe. Galimba defende um salário de 40 mil meticais (584 euros) para garantir uma vida digna.
A mesma proposta surge na voz de Tichaona Bernardo, residente em Pemba, província nortenha de Cabo Delgado: "Esse valor seria suficiente para pagar água, luz e escola das crianças sem problemas."
Patrões em alerta
Do lado empresarial, há reconhecimento das dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores, mas também cautela em relação às propostas de aumento.
Shakeel Ahmad, empresário em Nampula, considera que "a cesta básica está cada vez mais cara e podemos dar um pouco mais, mas tudo deve ser feito com tempo."
A retoma das conversações abre espaço para um possível consenso entre as reivindicações dos trabalhadores e a capacidade financeira dos empregadores. Contudo, o desfecho permanece incerto num país onde os desafios económicos se acumulam e as expetativas sociais se elevam.