Moçambique: Projeto combate gravidezes e uniões prematuras
31 de julho de 2025Cerca de 90% dos serviços sanitários em Moçambique dependem de doadores, sobretudo projetos ligados à saúde sexual e reprodutiva. Alguns parceiros retiraram-se, mas o Projeto Tsogolo Tsicana — que quer dizer "avança rapariga" — aparece com soluções para alguns distritos da província central de Tete.
Antónia Beca é uma das beneficiárias do projeto. Agora é "navegadora", uma espécie de ativista de saúde, no distrito mineiro de Moatize e fala em avanços.
"Reduziu um pouco os casamentos prematuros e gravidezes indesejadas", afirmou.
Prevenção nas escolas
A professora Ângela João aproveita as aulas para falar deste tema transversal aos seus alunos e diz que já não há registo de desistências nas escolas.
"Se temos desistência não é por causa de gravidezes precoces nem de uniões prematuras, não temos até hoje e o projeto é bem-vindo", garantiu.
O projeto Tsogolo Tsicana é uma iniciativa da ADPP — Ajuda para o Desenvolvimento de Povo para Povo — , sob patrocínio do governo de Flandres, e ajuda as raparigas a evitar gravidezes precoces, uniões prematuras e a contrair HIV.
A cidade de Tete e os distritos de Changara e Moatize são os pioneiros e o projeto consegue responder, embora não na totalidade, à saída de alguns parceiros deste setor.
No Centro de Saúde dos CFM, os Caminhos de Ferro de Moçambique, a enfermeira Maria Fernando, que é ponto focal dos Serviços Amigos dos Adolescentes e Jovens (SAAJ), afirma que as raparigas estão a aderir aos programas de redução de uniões prematuras e gravidezes precoces. Mas diz que há falta de material de prevenção.
"O desafio é a rutura de nossos insumos, o que não agrada aos adolescentes. Estou a pedir ao Tsogolo Tsicana que nos ajude também", revelou.
Rendimento feminino
O projeto também incentiva as mulheres a obterem o seu próprio rendimento a partir do que sabem fazer.
Em Changara, a 90 km da capital, a cabeleireira Sónia Arnaldo faz perucas que depois vende. Assim, tornou-se empreendedora e alimenta a família com os rendimentos.
"Eu tinha desistido da escola, os meus filhos também, para me sustentar a mim e aos meus filhos, ajudo o meu marido aqui em casa porque ele não trabalha e cheguei onde estou", contou.
Isac Maposse, médico chefe em Changara, fala em melhorias na mudança de atitudes entre os jovens desde 2023 até ao momento.
"Em termos percentuais podemos dizer que está em torno de 20% a 25%, mas principalmente em zonas recônditas em que com a introdução do projeto tivemos uma redução de 10 a 15% desta percentagem [de uniões prematuras]", explicou.
Desafios de insumos
O diretor provincial de saúde em Tete, Arão Bertil, disse que o projeto pode aliviar as ações de jovens e adolescentes depois da retirada da USAID, a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, dos projetos de saúde reprodutiva.
"Temos um dilema em relação ao transporte de vários insumos, por exemplo, os métodos anticoncetivos. Estamos a implementar a terciarização dos serviços de transporte de medicamentos que saem do depósito para os centros de saúde. Este método ajuda a reduzir a rutura frequente nas unidades sanitárias, mas com este problema que temos com a USAID há alguns itens como anticoncetivos, material de circuncisão médica masculina que esses carros da USAID já não podem carregar", afirmou.