Mexidas na Defesa revelam desligamento paulatino de Chapo?
29 de julho de 2025O Presidente da República de Moçambique fez esta segunda-feira (28.07) uma mexida no Exército marcada pela habitual "dança das cadeiras" e a promoção de alguns nomes novos. Messias Niposso, por exemplo, deixou de ser inspetor das Forças Armadas de Defesa e passou a ser vice-chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM). Já Elias Mataruca é um nome novo indicado como diretor do Departamento de Logística no Estado-Maior General das FADM.
Daniel Chapo parece estar a finalizar o corte umbilical com a anterior governação numa área-chave, de forma lenta e não abrupta, diz em entrevista à DW o académico Calton Cadeado.
Estará agora o novo residente da Ponta Vermelha a desenhar a sua marca governativa? O especialista em segurança destaca a postura "mais aberta" do Presidente, alertando que, especialmente em Defesa e em Cabo Delgado, é preciso tempo, condições e apoio da população para que as mudanças tenham sucesso.
DW África: Foi parcialmente uma "dança das cadeiras". Vê algum inconveniente nisso?
Calton Cadeado (CC): Eu não vejo inconveniente nisso porque o chefe de Estado tem um poder discricionário para fazer estas nomeações, ouvido as outras instituições ligadas à área.
DW África: Relativamente às promoções dos poucos nomes novos, é dessa direção que vem a marca própria de Daniel Chapo ou é a regeneração reivindicada?
CC: Isto é interessante por causa da pergunta que o chefe de Estado nos colocou há bem pouco tempo, na aula inaugural do curso de Defesa Nacional. Ele perguntava se o Acordo Geral de Paz ainda é válido. Então, eu estou a fazer essa interpretação, associando a isso, para ver se isto hoje lhe amarra as coisas do Acordo Geral de Paz ou ele tem de se libertar de algumas coisas para poder fazer a sua marca.
Voltando à primeira pergunta, podemos dizer que, do ponto de vista legal, ele pode fazer as nomeações que quiser, mas do ponto de vista político é que começa a discussão, porque o Acordo Geral de Paz é um acordo jurídico, mas tem a componente política, que provavelmente pode ser isto que está a acontecer agora.
DW África: Ainda assim, pode-se dizer que findou o xadrez militar composto pelo antecessor de Daniel Chapo e que a remodelação de setores-chave, como a Defesa, é entendida como sinónimo de uma assunção efetiva do poder?
CC: É difícil negar essa interpretação, mas só teremos uma confirmação quando ele o afirmar. Mas quem assim interpreta tem razão em assim dizer, porque é isto que tem sido a marca das nossas governações aqui em África ou em qualquer outra parte do mundo.
Agora, se formos ver, há situações também de pessoas que acham que esse tipo de corte não pode ser um corte brusco e imediato. É preciso capitalizar um certo tempo para podermos ter a experiência e a passagem de testemunho para outros que vierem a seguir, sobretudo nestas áreas chaves como Defesa e Segurança.
DW África: E o que é que podemos esperar do Presidente daqui para a frente, com as suas marcas próprias no Governo?
CC: Em princípio, este Presidente tem estado a fazer inovações. Vou falar especificamente na área de Defesa e Segurança, tomando como exemplo a aula inaugural que ele fez no ISEDEF.
Ele falou de forma aberta e tem estado a dizer "vamos falar sem filtros". Algumas pessoas que estavam naquele evento acharam estranho, sobretudo na área da Defesa e Segurança, ver um Presidente a falar com aquela frontalidade toda, perante um corpo diplomático e perante os seus membros das Forças de Defesa e Segurança. É uma marca que ele está a colocar.
Noutros tempos era difícil ver a abertura com que ele fala, quando usa sobretudo aquela expressão "vamos falar sem filtros". Então, pode ser esta uma marca. Eventualmente, pode ser também que, com as pessoas que ele consultou, tenha concluído que podia incluir na sua equipa e que as pessoas deveriam dar uma certa lealdade que é diferente da lealdade que deram ao antecessor.
Mas uma coisa não podemos ignorar: qualquer um que está naquela posição, sobretudo quando quer manter-se, faz um pouco de tudo para manter a lealdade, para poder continuar ali, naquele espaço. Então, é um pouco difícil concluir que este novo elenco é para lhe ser fiel e que os outros não eram fiéis.
DW África: Para Cabo Delgado esta nova composição pode trazer alteração positiva, num momento em que se intensificam os ataques das forças insurgentes na provínica?
CC: É uma questão de liderança. Pode ser que sim, pode ser que não. Vamos ver as condições do terreno e as capacidades que forem colocadas no terreno.
Não é o simples facto de mudar as pessoas que as coisas vão mudar se não houver condições para as Forças Armadas fazerem o seu trabalho como deve ser. Estamos a falar das condições das Forças Armadas, mas também estamos a falar do apoio que a população deve dar para podermos fazer o combate.