Moçambique: Naparama acusa Mondlane de "recrutamento"
1 de maio de 2025As autoridades policiais detiveram, na semana passada, um suposto líder dos Naparamas, que há uma semana esteve envolvido em confrontos com as Forças de Defesas e Segurança, no posto administrativo de Mutuali, na província de Nampula, que terá resultado na morte de pelo menos cinco membros do grupo paramilitar, segundo a Polícia da República de Moçambique (PRM).
O suposto comandante do grupo, cuja identidade omitimos por motivos de segurança, afirma que aderiu e liderou o grupo com promessas de oferta de emprego, garantidos pela equipa de Venâncio Mondlane.
"Para sermos Naparamas, foi por engano do nosso delegado [do movimento político de Venâncio Mondlane] de Malema e de Mutuali. Ele [delegado de Malema] chegou em Mutuali e disse que precisa de jovens para serem militares do Venâncio. Fomos escolhidos e aceitamos tudo e ele pediu para que procurássemos um curandeiro para um tratamento tradicional para passarmos a pertencer a Naparamas. Ficámos convencidos e enganados pelo emprego que ele prometera de sermos militares, agentes da Polícia", afirma.
Pedidos de desculpa
Aparentemente arrependido, o suposto líder pede perdão a formações políticas com ligações ao Governo: "Nós estamos arrependidos. Peço perdão ao nosso governador de Nampula, à PRM, aos militares e, segundo, peço perdão ao partido FRELIMO, e aconselho todos os amigos que estão em Mutuali e fora de lá, mas que estivemos juntos nesses tempos, para que se entreguem na PRM ou militares", exorta.
A FRELIMO, na voz do membro da comissão política Filipe Paúnde, diz desconhecer "o mal" que os Naparamas terão feito ao partido que justifique o pedido de desculpas específico: "Não sei se os Naparamas fizeram mal à FRELIMO. Quero acreditar que fizeram mal ao povo moçambicano. Não há membro da FRELIMO que não seja moçambicano".
Na passada segunda-feira (28.08), pelo menos 63 homens que afirmam pertencer ao grupo dos Naparamas, em Mutuali, renderam-se às autoridades, num ato testemunhado pelo governador de Nampula. Na sua mensagem, o representante do grupo justificou a criação do movimento com "o desejo de mudança e de melhores condições para a comunidade".
"Lamentavelmente, por nervosismo e vontade e falta de controlo, alguns acabaram recorrendo a meios inadequados que trouxeram mais dor e sofrimento, ao tentar resolver um problema real", acrescentou, pedindo igualmente desculpas ao Governo. Os membros do grupo apelaram ainda a medidas concretas para impulsionar o desenvolvimento das comunidades.
Equipa de Mondlane nega envolvimento
Em entrevista à DW África, Castro Niquina, coordenador provincial do movimento político de Venâncio Mondlane em Nampula, nega qualquer envolvimento do movimento e do seu líder: "Nós fazemos política, não tratamos de conflitos. Dentro da nossa organização, não temos departamento que lide com assuntos relacionados, para além de que todas as atividades são divulgadas publicamente".
"Nós estamos num país onde se fala do terrorismo em vários cantos. Se existem algumas pessoas que se insurgem, as autoridades não podem dar lugar a argumentos e validar, pelo facto de falarem de Venâncio Mondlane", acrescenta.
Niquina denunciou ainda o aumento do oportunismo para saques e vandalização de bens públicos e privados em diferentes distritos da província, por indivíduos que quando neutralizados alegam pertencer ao grupo do político Venâncio Mondlane e apelou às autoridades para que combatam este cenário, responsabilizando qualquer indivíduo envolvido.
Analista aponta para "encenação política"
O analista e defensor dos direitos humanos Gamito dos Santos estranha o posicionamento do suposto líder dos Naparamas e entende tratar-se de uma clara tentativa de enfraquecer e matar politicamente Venâncio e os seus projetos políticos.
"Há muitos pontos soltos neste caso, o que faz acreditar que se trata duma encenação política", afirma. "Muitas vezes estamos habituados a ver esses tipos de teatros baratos com que a PRM nos tem brindado, o que descredibiliza de certa forma o seu trabalho", acusa ainda o analista.
"Não vejo porque é que um líder dos Naparamas vai pedir desculpas à FRELIMO, onde é que entra a FRELIMO neste ato? Logo, dá para perceber que alguns pontos foram deixados à solta", considera.