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Moçambique: Ataques em Niassa causam mais 1.500 deslocados

15 de maio de 2025

O mais recente ataque insurgente ocorreu na segunda-feira (12.05), em Macalange, província moçambicana de Niassa. A investida causou o desaparecimento de várias pessoas e agravou o clima de insegurança na região.

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Casas destruídas por terroristas em Mecula, Niassa, Moçambique, 2022
A Reserva Especial do Niassa, no norte de Moçambique, tem sido palco de uma série de ataques de grupos insurgentes (foto ilustrativa)Foto: Privat

Mais de 1.500 pessoas fugiram das localidades de Mbamba e Macalange, no norte de Moçambique, devido aos recentes ataques por alegados grupos insurgentes em áreas protegidas da Reserva Especial do Niassa, gerando pânico entre os residentes.

De acordo com a Organização Internacional para as Migrações (OIM), as famílias deslocadas procuraram refúgio em Mecula, onde algumas foram acolhidas na Escola Básica 16 de Junho, transformada num centro de trânsito, enquanto outras ficaram alojadas em casas de familiares e membros da comunidade.

O mais recente ataque ocorreu na segunda-feira (12.05), em Macalange, tendo resultado no desaparecimento de várias pessoas e agravado o clima de insegurança na região.  

Em entrevista à DW, Cesaltino Vilanculo, coordenador interino do Cluster de Coordenação e Gestão de Centros de Acomodação em Moçambique, alerta para o elevado número de deslocados no norte do país, ao qual se juntam estas famílias, salientando a importância do trabalho humanitário.

DW África: Qual o ponto de situação na região, que tem sido palco de uma série de ataques por grupos insurgentes?         

Cesaltino Vilanculo (CV): Este deslocamento forçado é parte de um cenário mais amplo de instabilidade, que continua a afetar várias regiões no norte de Moçambique, onde me encontro baseado.

Não obstante, embora alguns relatórios deem conta que cerca de 700 mil pessoas já retornaram às suas comunidades nos últimos anos, graças à melhoria da segurança e dos esforços do Governo, importa salientar que ainda temos um número significativo de deslocados.

Perto de 600 mil pessoas ainda continuam em condições de deslocamento devido a eventos similares a este que aconteceu em Mbamba, mas também por conta dos eventos climáticos extremos.

Isto mostra que a situação humanitária ainda é crítica e exige atenção de forma contínua.

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DW África: Para onde foram realocadas estas 1.500 pessoas?

CV: Atualmente, essas famílias estão alojadas na Escola Básica a 16 de Junho, identificada como um local seguro e preparado pelo Governo. Mais importa referir que, devido à capacidade do local ou mesmo por opção, algumas famílias procuraram acolhimento junto dos seus parentes ou de alguns membros da comunidade de boa-fé.

A OIM, em coordenação com as suas contrapartes, falo do Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres, bem como do Serviço Distrital de Planeamento e Infraestruturas, e demais parceiros, estão a trabalhar em conjunto no terreno. São várias ações que estão a ser levadas a cabo desde a questão do registo adequado para que as famílias possam ter acesso à assistência, à distribuição de alimentos, à componente de abrigos temporários e à provisão de serviços básicos.

Hoje, o que notamos é que esta coordenação entre os atores humanitários está a ser fundamental para garantir que a resposta chegue com a maior rapidez possível.

DW África: Quais as necessidades humanitárias identificadas até ao momento?

CV: Muito mais do que este esforço multissetorial que está a ser feito juntamente com o Governo e com os outros parceiros como mencionei anteriormente, atualmente, as necessidades são maiores do que os recursos disponíveis. Digo isto porquê? Porque as famílias deslocadas não sabem por quanto tempo permanecerão fora de casa pois estão a enfrentar sérias dificuldades.

Neste momento, as principais necessidades identificadas incluem artigos alimentares essenciais, como cobertores, utensílios de cozinha e assistência alimentar adequada. As famílias também precisam de mais privacidade, mais proteção, e isso só será possível através da alocação de abrigos de uso familiar. Também tem a componente dos kits de higiene porque não há condição de saneamento no geral, porque estas escolas foram preparadas para uso intermitente, mas, neste momento, temos muitas famílias o que em algum momento pressiona a condição atual para o qual a infraestrutura foi definida.

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A OIM identifica necessidades humanitárias urgentes, como alimentação, apoio psicossocial, tendas, artigos de higiene e melhoria do saneamento (foto ilustrativa)Foto: Delfim Anacleto/DW

Relatos do campo dão conta que muitas mulheres, principalmente crianças, estão numa condição de trauma e há também necessidade de algum apoio psicossocial.

De uma forma geral, estes itens todos são essenciais não só para reforçar a mobilização de recursos, mas também para complementar aquilo que é o esforço do Governo para garantir que estas famílias tenham condições mínimas de proteção, dignidade e segurança enquanto estiverem nessa condição de deslocamento.

DW África: Há indicação de novas movimentações de deslocados ou receios de alastramento dos ataques a outras zonas da província de Niassa?

CV: Esta é uma pergunta interessante. Importa salientar que não houve violação dos civis, mas boa parte dessas famílias são oriundas do mesmo local, que é a localidade de Mbamba. Então deslocaram-se desse ponto para o centro coletivo.

Também temos indicação de novas entradas, que também ocorreram por conta deste ataque recente e que acaba por aumentar este número de 1.500, mas são significativas em termos de alterar este número.

Importa enfatizar que uma boa parte das famílias fugiu por medo dos ataques. Porque as famílias na altura ouviram esta questão dos tiroteios, e naquela incerteza deslocaram-se em massa e encontram-se neste local sob proteção do Governo.

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