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Moçambique: "A polícia vai para os protestos para matar"

19 de março de 2025

Editor do Centro para Democracia e Direitos Humanos acusa a polícia moçambicana de continuar a matar cidadãos inocentes. Duvida ainda da vontade do Presidente Daniel Chapo de dialogar com a sociedade civil.

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Polícia na Zambézia
Plataforma civil Decide diz que, desde outubro, pelo menos 361 pessoas morreram nos protestos pós-eleitoraisFoto: Marcelino Mueia/DW

Um jovem foi baleado ontem (18.03), em Maputo, durante o chamado "Dia dos Verdadeiros Heróis do Povo Moçambicano", proclamado pelo ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane. A polícia lançou gás lacrimogéneo e disparou vários tiros para dispersar populares que se concentraram nas ruas.

Lourenço Nhamango, familiar do jovem baleado, disse estar "desapontado com a polícia" e pediu "que se faça justiça para tentar impedir que isto volte a acontecer com outras famílias".

Em entrevista à DW, André Mulungo, editor no Centro para Democracia e Direitos Humanos (CDD), sublinha que a polícia da República de Moçambique mente, quando diz que tem usado "meios legítimos" para dispersar os manifestantes nos protestos pós-eleitorais.

O pesquisador comenta ainda o facto de não se conhecerem até agora os nomes das três figuras da sociedade civil de "reconhecido mérito" que o Presidente de Moçambique, Daniel Chapo, convocou para as comissões e grupos de trabalho que vão debater as reformas estatais, o diálogo e a reconciliação no país.

O diálogo deve incluir a figura que é ouvida pelo povo, nomeadamente Venâncio Mondlane, mas também representantes da "sociedade civil genuína" e não "fantoches", afirma Mulungo.

DW África: A polícia moçambicana disse ontem que usa "meios legítimos" para dispersar manifestantes. Como olha para estas declarações da polícia?

André Mulungo (AM): Isso é mais uma mentira da Polícia da República de Moçambique. É uma grande mentira, e nós podemos dar exemplos.

Ontem, o jovem que foi assassinado na zona da Casa Branca estava no meio de uma zona habitacional. Como é que uma entidade que diz que usa meios não violentos está a usar balas verdadeiras numa zona residencial? Há ainda o caso de uma jovem que perdeu o maxilar na zona de Muchafutene, que se encontrava no interior do seu atelier. E podemos dar também o exemplo do jovem "Mano Shottas", de Ressano Garcia, que foi baleado. Era um jovem que estava apenas com o telefone na mão a fazer uma "live".

Ataque a caravana foi "um aviso a Venâncio Mondlane"

A polícia vai para as manifestações com o objetivo de matar as pessoas. Se a polícia mata, significa que o Estado, em primeiro lugar, deve responsabilizar esses agentes. A inação do Estado significa que ele está a patrocinar essa violência estrutural a que estamos a assistir desde 19 de outubro.

DW África: O Presidente Daniel Chapo tem falado repetidamente de reconciliação e diálogo. Na semana passada, anunciou a integração de três figuras da sociedade civil "de reconhecido mérito" para fazerem parte das comissões e grupos de trabalho que vão debater reformas e esse mesmo diálogo. Sabe quem são essas três figuras? Esse diálogo poderia resolver definitivamente o problema?

AM: Não resolve o problema. É mais um sinal da falta de vontade do Governo e do partido FRELIMO de trazer a paz e a estabilidade para Moçambique. É verdade que falou dos termos de referência e das reformas que têm de ser feitas, mas não se pode fazer reformas nenhumas enquanto não se estabilizar o país.

Estabilizar o país significa irmos para um diálogo genuíno, que deve incluir Venâncio Mondlane e a sociedade civil verdadeira, e não os "fantoches" que desconfiamos que se esteja a querer inserir nesse diálogo.

DW África: Mas quanto às três figuras da sociedade civil de reconhecido mérito, de que Daniel Chapo falou, sabe quem são?

AM: Não sabemos. Temos de ficar à espera para saber quem são essas figuras, mas sublinho a importância de termos nesse diálogo a sociedade civil que está [verdadeiramente] comprometida com o país e não com interesses político-partidários.

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