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CriminalidadeMoçambique

Morte de Nini Satar: História de crime, política e negócios

28 de março de 2025

Ainda são escassas as informações sobre as causas da morte de Nini Satar, condenado a 24 anos pelo seu envolvimento no assassinato do jornalista Carlos Cardoso. Nini Satar foi hoje encontrado morto na sua cela.

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Reportagem em Kaiserburg, Nuremberga. Flash Galerie 319
Foto ilustrativaFoto: DW / Maksim Nelioubin

De acordo com um comunicado divulgado nesta sexta-feira (28.03) pelo Serviço Nacional Penitenciário, Momad Assif Abdul Satar, mais conhecido por Nini Satar, foi encontrado sem vida durante uma inspeção matinal às celas do estabelecimento de máxima segurança onde cumpria pena.

Nini Satar foi condenado em 2003 pelo homicídio de Carlos Cardoso, que, à época da sua morte, investigava um esquema de desvio de 14 milhões de dólares do Banco Comercial de Moçambique (BCM). O crime beneficiou diretamente os irmãos Satar, proprietários de uma casa de câmbio.

Com a notícia do falecimento de Nini Satar, a DW procurou ouvir figuras diretamente ligadas ao caso, entre elas o advogado Albano Silva, que representava o BCM e era esposo da então primeira-ministra Luísa Diogo. No entanto, Silva recusou-se a prestar declarações.

Mas quem falou à DW foi o jornalista Paul Fauvet, amigo e colega de Carlos Cardoso. Fauvet expressou o peso do assassinato do jornalista, no qual Nini Satar esteve envolvido. Embora não lamente a morte de Nini, afirmou que preferia vê-lo vivo e a cumprir integralmente a sua pena.

"Para mim ele poderia ter ficado na cadeia para o resto da vida", disse o jornalista.

20 anos após o assassinato do jornalista Carlos Cardoso
Carlos Carsoso foi um notável jornalista comprometido com a verdade Foto: Matias Leonel/DW

"É caso para dizer que o crime não compensa"

Por seu turno, Hélder Matlhaba, que foi advogado do motorista de Carlos Cardoso, ferido durante a emboscada que resultou na morte do jornalista, reitera que nenhuma, pena incluindo a morte, fará justiça ao assassinato de Cardoso.

"Eu acho que nada pode pagar ou substituir uma vida. A família Cardoso sem dúvidas sofreu danos com tudo isto", lamenta.

O caso, que também envolveu Nyimpine Chissano, filho do então Presidente moçambicano Joaquim Chissano, levou seis arguidos ao banco dos réus. Atualmente, apenas Aníbal dos Santos Júnior, conhecido como Anibalzinho, continua vivo.

Curiosamente, os réus condenados que obtiveram liberdade condicional após cumprirem metade da pena foram brutalmente assassinados fora da prisão. A DW apurou que Nini Satar cumpria os meses finais da sua sentença e em breve teria direito à liberdade. O jornalista Luís Nhachote, que acompanhou o julgamento do caso Carlos Cardoso e outros processos relacionados a Nini Satar, afirmou que "é caso para dizer que o crime não compensa".“Ha uma coisa que não se compra que é a paz e eu não sei se ele tinha", questiona.

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Assassinato?

Apesar da sua notoriedade pelo homicídio de Carlos Cardoso, Nini Satar tornou-se, ao longo dos anos, uma figura controversa e incômoda ao regime da FRELIMO, partido que governa o país há cerca de cinco décadas. Nhachote recorda que Nini expôs casos de corrupção no Estado moçambicano, incluindo no sistema judicial.

Nhachote diz que "ele facultou à comunicação social dossiers que conseguia adquirir por caminhos ímpios".

Diante desse cenário, Paul Fauvet considera que Nini Satar acumulou diversos inimigos ao longo da vida: "Sem dúvidas que Nini Satar sabia mais sobre diversos crimes e sem dúvidas que tinha problemas com outras pessoas na comunidade do crime e pode ter sido um ajuste de contas."

Por outro lado, o Advogado Helder Matlhaba discorda da hipótese: "Eu não acho que tenha sido um ajuste de contas. Eu penso que ele cumpriu a pena decretada pelo tribunal e em breve teria a sua liberdade restituída."

Nini Satar era também suspeito pelas autoridades moçambicanas de ser o autor moral dos crimes de raptos no país, embora nunca tenha sido acusado formalmente. Enquanto esteve preso, Satar denunciou uma tentativa de assassinato e o caso foi julgado em 2023.
 

Silaide Mutemba Correspondente da DW África em Maputo