Morreu o ex-Presidente da Nigéria Muhammadu Buhari
14 de julho de 2025O líder nigeriano deixa um legado contraditório: é recordado tanto pelos seus esforços para promover a integridade, como por uma liderança marcada por falhas profundas.
Organizações de defesa dos direitos humanos afirmam que Buhari nunca abandonou as suas tendências autoritárias. "Quando se fala dos anos mais sombrios da democracia na Nigéria, um nome que ecoa com vergonha é o do ex-Presidente Muhammadu Buhari", recorda Omoyele Sowore, ativista dos direitos humanos.
"Primeiro, o massacre de xiitas em Zaria. Isto aconteceu sob a sua supervisão e comando direto, em 2015, quando mais de 300 muçulmanos xiitas desarmados foram massacrados. Homens, mulheres e até crianças. O crime deles? Terem ousado protestar contra alguns soldados. Também em outubro de 2020, jovens nigerianos que protestavam contra a brutalidade policial, no movimento EndSARS, foram mortos a tiro por soldados sob o comando de Buhari. Isso é inesquecível e imperdoável", lembra ainda o ativista.
Omoyele Sowor descreve Muhammadu Buhari como um intolerante étnico, que desprezava o Estado de direito. Ignorou ordens judiciais e esteve envolvido em desaparecimentos forçados de opositores.
Reputação como ex-militar dividia opiniões
Muhammadu Buhari chegou ao poder em 2015, derrotando Goodluck Jonathan nas eleições mais justas da história recente da Nigéria. Mas a sua reputação como ex-general militar dividia opiniões. Muitos esperavam disciplina e ordem, mas o que se seguiu foi lentidão e frustração.
Buhari até ganhou o apelido de "Baba Go Slow" (Baba vai devagar, em português). Demorou seis meses a nomear os seus ministros e enfrentou uma economia em crise, afetada pela queda dos preços do petróleo.
Ainda assim, há quem reconheça os seus esforços. "Ele é um homem que acreditava em tornar a Nigéria o melhor lugar para se viver. Tentou enquanto chefe de Estado militar e como Presidente civil democraticamente eleito", afirma Yusuf Dantalle, do Conselho Consultivo Interpartidário da Nigéria.
Segundo Dantalle, Buhari "fez o seu melhor para unir a Nigéria, mas isso não significa que fosse perfeito. Tinha as suas falhas, como qualquer ser humano. No geral, tentou. Que descanse em paz."
Para Osasu Igbinedion Ogwuche, empresário da área dos media, o legado de Buhari provocou debates nacionais importantes "sobre a responsabilidade da liderança, a inclusão dos jovens e a necessidade urgente de reestruturar os sistemas para uma maior eficácia e consolidação da democracia. Estes são debates que não podemos ignorar".
"Como alguém que acredita profundamente no futuro da Nigéria, vejo o seu legado como um lembrete de que é preciso fazer mais e que há necessidade de novas vozes na sala de decisões", destaca ainda Ogwuche.
Erros no combate à corrupção e na economia
Apesar da promessa de combater a corrupção, a sua política anticorrupção não resultou em condenações de alto perfil. E a insistência em manter o valor do naira, a moeda local, artificialmente elevado foi criticada por economistas
Em 2022, a produção de petróleo, de longe a maior exportação da Nigéria, caiu para o nível mais baixo em mais de duas décadas devido ao roubo no Delta do Níger.
A saúde frágil também interferiu muitas vezes com o mandato de Buhari como Presidente. Viajava frequentemente para hospitais no estrangeiro devido a uma doença não revelada. Em 2017, surgiram rumores sobre a sua morte depois de ter desaparecido dos olhos do público durante 51 dias, alegadamente para se submeter a um tratamento.
Mesmo com recessão, ataques a campos petrolíferos e uma queda histórica na produção de petróleo, Buhari manteve a sua popularidade no norte do país, a sua região natal. Muhammadu Buhari sai de cena, deixando uma Nigéria em busca de respostas e de um futuro mais justo e estável.