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"É preciso que a liderança da RENAMO ouça os guerrilheiros"

28 de maio de 2025

À DW, Venâncio Mondlane alerta para as "consequências muito graves" que pode desencadear uma falta de acordo entre as partes. Diz ainda que, no Conselho de Estado, a sua prioridade é a segurança da população.

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Venâncio Mondlane, ex-candidato presidencial de Moçambique, em entrevista à DW
Mondlane diz que a sua participação no Conselho de Estado passa por trazer para cima da mesa questões relacionadas "com a segurança da população, cessação dos esquadrões da morte e violência"Foto: Nádia Issufo/DW

O ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane entende que a RENAMO não pode continuar a empurrar "os problemas para debaixo do tapete". Isto depois de, na manhã desta quarta-feira (28.05), um grupo de ex-guerrilheiros da RENAMO descontentes com a liderança do partido ter invadido o gabinete do general Ossufo Momade. Para o político, só acordos entre a liderança do partido e a sua "espinha dorsal" – os guerrilheiros - poderão salvar a segunda maior força da oposição do país.

Questionado pela DW sobre a sua participação no Oslo Freedom Forum, na Noruega, um dos mais conceituados eventos sobre direitos e liberdades no mundo, o político moçambicano fez um balanço positivo. Mondlane explica que "foi extremamente importante dar um quadro, fora da narrativa oficial, sobre a questão dos direitos humanos e das liberdades fundamentais em Moçambique".

"Realmente as pessoas ficaram chocadas. Não esperavam, não sabiam, por exemplo, que no nosso projeto político, já contabilizamos 50 pessoas assassinadas, dos meus colaboradores diretos", disse.

Sobre a sua participação no novo Conselho de Estado, diz que a sua prioridade passa por trazer para cima da mesa questões relacionadas "com a segurança da população, com a cessação dos esquadrões da morte e da violência".

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DW África: Segundo a Constituição, deve integrar o Conselho de Estado. De que forma pretende contribuir para o povo através deste órgão?

Venâncio Mondlane (VM):  É uma integração que é, digamos, automática, por uma questão de inerência dos resultados decorrentes do anúncio feito pelo Conselho Constitucional, que nós estamos totalmente em desacordo, mas é preciso ser um pouco mais pragmático.

E para tal, a prioridade número um que nós temos é que as questões essenciais que já levantámos, que têm a ver com a segurança da população, com a cessação dos esquadrões da morte, da violência, todas as questões que levámos à mesa das negociações, sejam cumpridas.

Mas também há outros vetores importantes: Um que é ouvir qual é a perceção que as pessoas que realmente nos elegem têm e ouvir um pouco também a nossa própria organização política, no seu mais alto critério, sobre o que pensam sobre isto. Se tudo conjugar para um melhor posicionamento da defesa dos interesses do povo, essa é uma decisão a tomar. Logicamente que a decisão vai ser de acordo com aquilo que for o diagnóstico que nós fizermos da perceção verdadeira do que realmente as pessoas esperam disso.

DW África: A RENAMO, partido em que já esteve filiado, segue ladeira abaixo, com a mais recente tomada da sua sede e do gabinete do líder Ossufo Momade pelos ex-guerrilheiros. Como vê a crise interna?

VM: Eu fui membro sénior da RENAMO, fui mandatário nacional da RENAMO, fui conselheiro do Presidente, fui relator da bancada, fui candidato ao círculo eleitoral e também ao município mais importante do país, que é a cidade de Maputo, e também tive várias performances na reivindicação dos resultados desde 2023. Portanto, tenho os pés assentes na RENAMO e tenho alguma memória institucional do partido.

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Sobre o que está a acontecer, é preciso, naturalmente, fazer uma reflexão. Se há uma perceção generalizada daqueles que são a espinha dorsal da RENAMO, que são os guerrilheiros, e os guerrilheiros estão totalmente desgostosos com a liderança, eu penso que não há outro caminho senão a liderança sentar com estas hostes militares para chegarem a um acordo. E é importante que essa situação [aconteça] enquanto ainda é tempo - ver se, de uma forma pacífica e tranquila, esse acordo pode ser alcançado, porque se continuarem com este braço de ferro e a fazer de conta que o problema não existe, ou a lançar os problemas para debaixo do tapete, isso pode ter consequências muito graves a breve trecho.

DW África: Foi o primeiro moçambicano a participar como orador do Oslo Freedom Forum, na Noruega. O que levou sobre o seu país na bagagem e qual foi o impacto?

VM: De salientar que é a primeira vez que Moçambique se faz representar neste fórum e que tem a oportunidade de ser um dos oradores do evento. Isso é um privilégio, uma honra histórica.

Mas acima de tudo, acho que foi extremamente importante neste fórum dar um quadro sobre a questão dos direitos humanos e das liberdades fundamentais em Moçambique. Dar um quadro fora da narrativa oficial. E foi extremamente importante as pessoas perceberem, no fórum, e no mundo, como é que anda a democracia paralela em Moçambique. Como é que anda a democracia "underground", é aquela democracia subterrânea que acontece em Moçambique, e realmente as pessoas ficaram chocadas. Não esperavam, não sabiam que a situação era essa. Não sabiam, por exemplo, que neste momento, no nosso projeto político, já contabilizamos 50 pessoas assassinadas, dos meus colaboradores diretos.

Portanto, foi uma grande oportunidade para amplificar um pouco a voz daqueles que estão silenciados no país e também para que os media internacionais e a comunidade internacional tenham outra perceção do nível de democracia e do tipo de contribuição que devem fazer em relação ao fortalecimento da democracia em Moçambique.

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Jornalista da DW Nádia Issufo
Nádia Issufo Jornalista da DW África
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