O político Venâncio Mondlane afirmou hoje que os pontos acordados com o Presidente moçambicano para a pacificação do país após o processo eleitoral não estão a ser cumpridos. Mondlane disse, por isso, estar desapontado com Daniel Chapo.
"Ou tem uma personalidade bipolar ou está a sofrer uma grande pressão dentro da FRELIMO", afirmou o ex-candidato à saída de uma audiência na Procuradoria-Geral da República, em Maputo. A sessão, acrescentou o político, foi para "esclarecer um ponto em particular" no âmbito dos processos sobre as manifestações pós-eleitorais.
Em declarações aos jornalistas, Mondlane salientou: "Eu ainda não conheço os crimes de que sou acusado".
Após a saída de Mondlane da Procuradoria, as forças de segurança lançaram gás lacrimogéneo contra apoiantes do ex-candidato presidencial que se aglomeraram nas ruas, gerando pânico e correria.
"Estava a ver o Venâncio ali. De repente, veio o carro da polícia e começaram a disparar gás lacrimogéneo contra nós. Não aconteceu nada de mal", contou um vendedor à DW.
Mondlane disponível para pacificação
Após meses de agitação social e manifestações de contestação aos resultados eleitorais das eleições gerais de outubro – que provocaram cerca de 400 mortos e elevada destruição em todo o país –, com a vitória de Daniel Chapo e da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), o chefe de Estado e Venâncio Mondlane encontraram-se pela primeira vez a 23 de março, em Maputo, e acordaram a pacificação do país, repetindo o encontro a 20 de maio.
Antes, a 5 de maio, o Presidente assinou com todos os partidos um acordo para a pacificação do país, prevendo a revisão da lei eleitoral, da Constituição da República e dos poderes do chefe de Estado, entre outras alterações.
Esta sexta-feira, Mondlane afirmou que continua disponível para essa pacificação.
"Não é o que está a ser posto em prática. Nem a nível do discurso, nem a nível dos posicionamentos, nem a nível da execução e implementação do que foi falado. Da nossa parte, continuamos disponíveis, em perfeita boa-fé, para continuar a conversar", disse o ex-candidato presidencial.
Conselho de Estado
Alem disso, Mondlane informou que vai para o Conselho de Estado: "Mesmo que eu não quisesse, não tenho hipótese porque lançámos um inquérito ao qual responderam 10.650 pessoas. Dessas, 80% não me aconselhou, ordenou-me a ir ao Conselho de Estado. Por isso, tenho de ir. Concordando ou não, o meu povo disse que tenho de ir", afirmou.
Acrescentou que já deu o "primeiro contributo" para aquele órgão: "Li a lei do Conselho de Estado e notei que é uma lei totalmente desadequada, que não corresponde a um órgão daquela natureza. Estudei a lei profundamente e já fiz a minha proposta de revisão, que já submeti ao Conselho de Estado".