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Moçambique: ONG exigem novo modelo de gestão eleitoral

15 de abril de 2025

Várias organizações da sociedade civil sugerem uma reviravolta no sistema de gestão eleitoral em Moçambique. Em primeiro lugar, seria preciso começar pela despartidarização do Estado.

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Logótipos da CNE e STAE em Moçambique
Moçambique precisa de reformas eleitorais? Organizações não-governamentais acreditam que simFoto: Amós Fernando/DW

Para a ativista Fátima Mimbire, um novo modelo de gestão eleitoral que não crie conflitos depois dos pleitos em Moçambique passa necessariamente pela despartidarização do Estado.

Mimbire afirma que instituições estatais como a Comissão Nacional de Eleições (CNE) ou o Conselho Constitucional deviam deixar de fazer política.

"As pessoas no Conselho Constitucional estão cientes das suas responsabilidades, do ponto de vista formal, mas quando chegam lá, na prática, esquecem e começam a fazer política", comenta a ativista.

"Acho que precisamos de ter um compromisso como sociedade", sugere.

Ativista política Fátima Mimbire
Fátima Mimbire: "As pessoas no Conselho Constitucional [...] esquecem e começam a fazer política"Foto: Nádia Issufo/DW

O académico Domingos do Rosário considera que, para evitar conflitos pós-eleitorais, o Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) deveria ser retirado da égide do Ministério da Administração Estatal.

Além disso, a CNE deveria ter um mandato único de sete anos: "Assim, mesmo a sociedade civil indicada pelos partidos políticos não vai sofrer muita pressão, porque, no final de sete anos, sabe que se vai embora. Não tem de negociar a renovação, nem prestar favores para renovar o mandato", afirma.

Regalias a mais?

O professor Domingos do Rosário critica ainda o "excesso de regalias" aos membros das instituições de gestão eleitoral.

"Vejam a lei da CNE", aponta.

A legislação estabelece várias regalias para quem pertence à Comissão Nacional de Eleições, incluindo viatura protocolar, habitação do Estado ou subsídio de renda e assistência médica e medicamentosa para si, cônjuge e dependentes a seu cargo.

"Como é que um indivíduo num país onde o salário mínimo são sete mil meticais [cerca de 96 euros] vai querer perder aquelas regalias todas?", questiona o académico. "Ele vai fazer tudo que está ao seu alcance para agradar aos partidos políticos que o nomeiam para voltar àquela posição."

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Por outro lado, a Comissão Nacional de Eleições deveria ser empossada pela Assembleia da República e passar a prestar contas de forma regular, diz ainda Domingos do Rosário.

"A quem presta contas a nossa CNE? A ninguém. A CNE faz e desfaz - no final do mandato, batem-se palmas, outros fogem, outros se escondem. O país arde e eles estão sentados nas suas esquinas", critica.

Estas sugestões surgiram na esteira de um debate organizado, esta terça-feira (15.04), pelo Centro de Integridade Pública (CIP) sobre a adoção de um novo modelo de gestão eleitoral que não provoque conflitos por causa dos resultados contestados pela oposição.

Romeu da Silva Correspondente da DW África em Maputo
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