Moçambique: Terroristas atacam área protegida no Niassa
5 de maio de 2025Pelo menos dois fiscais da Reserva Especial do Niassa, norte de Moçambique, morreram e outros dois estão desaparecidos após ataques de supostos rebeldes à zona protegida daquela província vizinha de Cabo Delgado, anunciou hoje fonte oficial.
Os dados avançados em comunicado de imprensa pelo Projeto Carnívoros do Niassa, uma das gestoras do acampamento de caça desportiva de Mariri, numa das coutadas da Reserva Especial do Niassa (REN), indicam que também um fiscal ficou ferido na sequência de ataques de supostos grupos terroristas à REN.
Ofensiva contra áreas protegidas
O acampamento de caça desportiva de Mariri, numa das coutadas da REN, composta por área com 42 mil quilómetros de terra em oito distritos que abrange também Cabo Delgado, região que desde 2017 enfrenta uma insurgência armada,sofreu um ataque em 29 de abril, após outro que terá ocorrido na mesma reserva em 24 do mesmo mês.
O Projeto Carnívoros do Niassa adiantou no mesmo comunicado que a sua equipa e parte dos seus recursos logísticos já foram retirados do acampamento na sequência dos dois ataques à reserva.
"Este episódio representa uma preocupante expansão do conflito que tem assolado o norte do país, atingindo agora uma das áreas de conservação mais importantes de Moçambique", avançou-se no mesmo documento.
A Associação Moçambicana de Operadores de Safaris (AMOS) também se mostrou preocupada face aos ataques de homens armados na REN, pedindo "calma" a quem tenha atividades de caça já agendadas.
A AMOS refere que situações de insegurança estão a ocorrer apenas no Niassa e Cabo Delgado, estando criadas as condições para a caça e turismo nas restantes partes do país.
Resposta oficial e alertas internacionais
A Polícia da República de Moçambique afirmou em 30 de abril que está a investigar um ataque de grupos insurgentes numa coutada de caça desportiva da Reserva Especial do Niassa, que terá ocorrido no dia anterior.
"Nós, como comando provincial da PRM de Niassa, tomámos conhecimento deste incidente, porém estamos no terreno como forma de obter mais informações a respeito", disse à Lusa Nelson Carvalho, porta-voz da PRM em Niassa.
O ministro da Defesa de Moçambique reconheceu também em 25 de abril a existência de grupos terroristas na Reserva Especial da província Niassa, após primeiro ataque à reserva.
"Temos conhecimento (...). São terroristas e nós estamos atrás deles", disse Cristóvão Chume.
O Governo norte-americano alertou nos últimos dias para movimentações de grupos terroristas na Reserva Especial do Niassa, sugerindo aos seus cidadãos que reconsiderem viagens à região.
Também o Governo britânico desaconselha viagens dos seus cidadãos a dois distritos da província de Niassa, norte de Moçambique, devido aos recentes ataques de supostos grupos de insurgentes numa área protegida.
A província de Cabo Delgado, rica em gás, enfrenta desde 2017 uma rebelião armada, que provocou milhares de mortos e uma crise humanitária, com mais de um milhão de pessoas deslocadas.
Só em 2024, pelo menos 349 pessoas morreram em ataques de grupos extremistas islâmicos na província, um aumento de 36% face ao ano anterior, segundo dados divulgados recentemente pelo Centro de Estudos Estratégicos de África, uma instituição académica do Departamento de Defesa do Governo norte-americano que analisa conflitos em África.