A dura realidade da mineração artesanal no Niassa
18 de junho de 2025A luta pela sobrevivência em Moçambique tem-se tornado cada vez mais difícil. Na província do Niassa, assim como em várias outras regiões do país, muitos moçambicanos têm recorrido à quebra de montanhas como forma de sustento. Utilizando fogo e marretas, fragmentam pedras que, posteriormente, são vendidas para a construção de casas. É um trabalho árduo e perigoso, mas, para muitos, representa a única alternativa para garantir o pão de cada dia.
Em busca de uma subsistência digna para suas famílias, vários moçambicanos recorrem à mineração artesanal. Em Lichinga, capital da província do Niassa, a reportagem encontrou um grupo de cerca de dez pessoas que vivem exclusivamente desse ofício.
Entre eles está Misse Mboate, de 65 anos, mais conhecido por Cavilha. Ele relata que exerce essa atividade há mais de 15 anos, sem qualquer tipo de proteção e de forma precária.
"Pensei em vir partir essas pedras para ajudar os meus filhos a comprar caderno. Consegui construir, mas ainda não terminei. Ajudei os meus filhos a tirar carta e minhas filhas a estudar. Não foram à faculdade porque não tenho dinheiro", declara.
Trabalho sem proteção
Com instrumentos rudimentares, como fogo e marretas, os trabalhadores fragmentam rochas do tipo gnaisse em diversos tamanhos. Esses fragmentos são vendidos a preços ínfimos — menos de um euro por cada 20 litros — destinados à construção civil.
"Não tenho proteção. Para comprar luvas é difícil. Ao menos consigo comprar botas. Mas outro tipo de proteção como óculos e máscaras não tenho. Esse pó prejudica a saúde. Eu já tive tuberculose e fui ao hospital tratar e passou. Não sei se a doença é devido a essa atividade", relata Cavilha, com evidente preocupação.
Apesar dos riscos, muitos veem na mineração artesanal a única possibilidade concreta de rendimento. Germano Jorge, de 20 anos, neto de Cavilha, segue os passos do avô com determinação.
"Comecei a desenvolver esse projeto com meu avô em 2022. Com esse dinheiro temos comprado cadernos para a escola, roupas e todos os materiais escolares. Agora, estou a desenvolver o projeto sozinho. Parto e vendo pessoalmente, já não faço biscates", afirma.
Riscos e impactos ambientais
O pesquisador Ivanilson António alerta para os riscos à saúde associados à prática, especialmente nos bairros da cidade de Lichinga. Segundo ele, os danos vão além dos mineradores.
"A emissão de poeira para as comunidades adjacentes a esses lugares de mineração pode ocasionar doenças pulmonares que surgem desse processo de mineração. O dicapeamento de vegetação ocasiona ainda a fuga da biodiversidade, estamos a falar da fuga de aves e répteis", explica.
Ele também destaca os impactos ambientais decorrentes da atividade:
"Os impactos ambientais que podem advir é a questão da erosão. A remoção da vegetação num espaço vai ocasionar a erosão dos solos e essa erosão pode ser hídrica ou eólica porque o solo fica exposto", acrescenta.
Por fim, os mineradores entrevistados pela DW África apelam às pessoas de boa vontade para que os ajudem com equipamentos de segurança e máquinas, com o objetivo de tornar o trabalho mais seguro e sustentável.