"Lutaremos até ao último suspiro contra a direção da RENAMO"
4 de junho de 2025A crise interna que abala a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) — o segundo maior partido da oposição — ganha novos contornos.
Em entrevista à DW, João Machava, líder de um grupo de ex-combatentes,diz que a conferência desta quarta-feira da Associação dos Combatentes da Luta pela Democracia (ACOLDE), convocada pela comissão política da RENAMO, ficou marcada pela exclusão de membros críticos e pela presença controversa de ex-combatentes da FRELIMO.
Machava aponta diretamente para Ossufo Momade, atual presidente do partido, como o responsável pelo aprofundamento da divisão interna.
Para o ex-combatente, a participação na conferência de figuras ligadas ao partido no poder evidencia uma tentativa de legitimar, à força, a liderança de Momade, ignorando as vozes contrárias que clamam por mudança e reformas dentro da RENAMO.
DW África: O grupo de ex-guerrilheiros da RENAMO descontentes participou na reunião com Ossufo Momade?
João Machava (JM): O nosso grupo — que reivindica a saída do Ossufo Momade pela má gestão do partido — foi totalmente excluído. Segundo informações de colegas das províncias, algumas pessoas que foram indicadas para participar nesta reunião não são desmobilizadas. Dois são desmobilizados da FRELIMO, que agora ocupam o cargo de membro. No meu ponto de vista, não podiam fazer parte da reunião da ACOLDE porque são desmobilizados da FRELIMO. São as mesmas pessoas que lutaram contra nós.
DW África: E por que é que vocês foram excluídos? Foi-vos apresentada alguma razão?
JM: No meu ponto de vista, nós fomos excluídos porque lá, na sala, não íamos votar a favor de Ossufo Momade. Nós continuamos e vamos continuar a lutar para que Momade se demita do cargo de presidente [do partido]. Foi por isso que ele trouxe das províncias delegados distritais e alguns membros que estão a favor dele. Todos aqueles que compactuam com o "diabo" são esses que foram escolhidos.
DW África: Concluindo, não foi criado nenhum espaço de diálogo para sanar este problema entre os descontentes desmobilizados e o líder do partido?
JM: Ossufo Momade não criou espaço para o diálogo. Nós já mandámos três cartas no ano passado, e a quarta mandámos este ano, em janeiro. Mas ele não abriu o espaço para nos reunirmos, para analisarmos a vida do partido. Estamos a ouvir dos colegas que lá [na conferência nacional] há revistas cerradas, controlo nas chamadas. Os colegas não podem falar à vontade. Não podem estar à vontade naquela reunião, porque querem ouvir o que se fala e com quem. Não é tempo para isso.
DW África: E qual é a credibilidade que a ACOLDE tem? Qual é a relevância deste organismo para o ex-combatentes?
JM: Quando o saudoso Afonso Dhlakama pensou em criar a ACOLDE, numa das reuniões das conferências dos desmobilizados, era para credibilizar os projetos rentáveis para os desmobilizados. A ACOLDE não foi criada para resolver assuntos do partido, mas sim a resolução de projetos dos próprios membros.
DW África: De que forma é que acha que devia ser discutido este problema que a RENAMO enfrenta hoje?
JM: Deveria ser discutido numa reunião nacional de quadros, até podia ser o Conselho Nacional alargado a outros quadros, porque aquele Conselho Nacional é "fantasma". Em nenhum dia vai resolver os assuntos da RENAMO, porque são pessoas indicadas, são amigos, cunhados, primos.
DW África: Agora, depois da exclusão, quais são as armas que têm contra a direção da RENAMO?
JM: Nós vamos continuar a lutar até ao último suspiro. Nós vamos continuar a lutar até às últimas consequências.