Jornalista da DW detido em Angola: "Não houve dignidade"
20 de fevereiro de 2025O jornalista António Domingos, correspondente da DW África no Cuanza Norte, afirma que a sua detenção em Ndalatando, no domingo (16.02), enquanto cobria uma manifestação contra os assassinatos de 17 idosas camponesas nas suas zonas de cultivo, nos arredores do município de Cazengo, é um ato de má fé. Os homicídios começaram no ano passado e ainda não se conhecem os autores.
Num comunicado a que a DW África teve acesso, o departmento de Comunicação Institucional e Imprensa do Comando Provincial da Polícia Nacional no Cuanza Norte informou que os presentes no antigo Mercado 4 de Fevereiro, junto à estrada nacional número 230 em Ndalatando, insurgiram-se contra os agentes em serviço, o que teria motivado as detenções.
As autoridades policiais detiveram várias pessoas, entre elas dois deputados eleitos pela UNITA nas eleições de 22 de agosto de 2022, João Quipipa Dias e Francisco Fernando Falua. Foram também detidos no mesmo local activistas cívicos, populares e o jornalista António Domingos, que é secretário provincial do Sindicato dos Jornalistas Angolanos .
DW África: Foi detido pela polícia no passado domingo. O que aconteceu?
António Domingos (AD): Eu dirigi-me ao largo do antigo 4 de Fevereiro, aqui na cidade de Ndalatando. Como profissional, tirei o meu material e comecei a fazer o meu trabalho. Infelizmente, no decurso do meu trabalho - depois de 10 ou 20 minutos do exercício da minha profissão - fui abordado por um efetivo da corporação fardado. Veio ter comigo e disse que eu tinha de o acompanhar até à presença do seu chefe.
DW África: Mas pediram para que o acompanhasse porquê?
AD: Porque eu não deveria estar aí. Ali estava proibido, era um lugar sitiado que não podíamos estar ali. Fui tratado de forma cruel, de forma desumana. Não houve dignidade. Eles pensam que entidade é só o governador João Diogo Social. Estavam a proferir palavras de ações psicológicas. Um deles chegou até a dizer: "Vocês estão ao serviço da UNITA. Isso tem que rebentar de novo, pois esse teu discurso leviano é que faz com que alguns de vocês atuem dessa maneira."
DW África: Considera a maneira como foi tratado enquanto profissional da comunicação social como um atentado à liberdade de imprensa?
AD: Exatamente. É uma violação tremenda da liberdade de imprensa vigente em Angola. Enquanto profissional da comunicação social no exercício da minha profissão, não teria sido tirado dali daquela maneira como se de um delinquente se tratasse, como se fosse um espião. Mas os espiões estavam ali, todas as forças de segurança do país estavam ali.
DW África: Acha que eles agiram de má fé?
AD: Sim, agiram de má fé, de facto, porque o próprio comandante, o superintendente Mário Bartolomeu, questionou os seus efetivos porquê eu também fui naquele pacote dos jovens que estavam a ser interrogados lá no departamento de informações policiais.
DW África: E o que pretende fazer a este respeito a partir de agora?
AD: Nós, ao nível do sindicato, já reagimos. O Sindicado dos Jornalistas Angolanos já se pronunciou sobre esta situação. Vamos intentar uma ação judicial junto à Procuradoria-Geral da República contra o comando provincial da Polícia Nacional no Cuanza Norte, por conta destas barbaridades que têm estado a acontecer. Não é a primeira vez que sou vítima dessa perseguição, desse boicote ao exercício da minha profissão.