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Jornalista atropelado e processado: "É para intimidar"

15 de julho de 2025

Filesmar Agostinho passou de vítima de atropelamento alegadamente intencional a réu acusado de injúria. O jornalista se diz ser alvo de ameaças e intimidações.

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O jornalista moçambicano Filesmar Agostinho passou de vítima de atropelamento intencional a réu acusado de injúria e diz ser alvo de ameaças.
Filesmar Agostinho: "Julgo ser uma intimidação que o diretor está a fazer"Foto: imago images/HochZwei

Há mais de um ano e meio, terá sido atropelado alegadamente intencionalmente pelo diretor distrital da Educação em Nacala-Porto, norte de Moçambique, no exercício da sua profissão e depois abandonado, sem os primeiros socorros. Falamos do jornalista Filesmar Agostinho, que na altura processou o diretor, porém Alexandre Mário foi ilibado.

Agora, quem processa o jornalista é Mário, por entender que teve a sua imagem injuriada na imprensa. Agostinho diz que recebe ameaças e denuncia intimidação. Apesar dos desconfortos, o profissional conta com o apoio de organizações de media.

Hoje, foi dia de julgamento, mas não houve sentença por falhas ou incongruências no processo. A DW ouviu Agostinho que começou por contar que não está satisfeito com o andamento do processo.

DW África: Está satisfeito? A justiça foi feita?

Filesmar Agostinho (FA): Não estou satisfeito, porque julgo ser uma intimidação que o diretor está a fazer.

Radar DW: Que desafios para a liberdade de imprensa?

DW África: Então, sente-se intimidado no exercício da sua profissão de uma forma geral?

FA: Exatamente, sinto-me intimidado porque não é só este caso. Há vários outros. Há até um grupo de jovens que estão à minha procura e já prometeram espancar-me – alegadamente porque só estou a fazer coisas feias, não faço coisas boas para o Governo.

Agora, quanto ao Governo, primeiro começa ao nível local. Não se falou a respeito desta situação, muito menos foi-me feita uma visita quando eu estava lá 30 dias na minha casa a esperar pela cura da minha perna. Lamentar nesse sentido.

Mas os apoios, desde o primeiro momento, estou a receber do MISA-Moçambique, o SNJ a nível local, a nível provincial. São estes que servem como suporte deste caso e até então estão a trabalhar no sentido de trazer a verdade e também a justiça.

DW África: E do lado do Governo, em particular do Ministério da Educação, houve alguma reação em relação à atitude do diretor?

FA: Não houve nenhuma reação.

DW África: Ninguém se responsabilizou pelo caso?

FA: Não se responsabilizou.

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DW África: A violência contra os profissionais da mídia vai se extremando em Moçambique. A seu ver, o que é que motiva este comportamento abusivo?

FA: Este tipo de comportamento é para intimidar o jornalista no exercício do seu trabalho. Fica evidente, é para intimidar. Todo aquele jornalista que leva esta profissão, aqui no meu país, não é bem-visto. É visto como uma pedra no sapato e que sempre está a incomodar. Se não é intimidado pela barra da justiça, é calado por uma bala ou então desaparece, assim como os outros fizeram, sem citar nomes.

DW África: Em que circunstâncias foi atropelado?

FA: No dia 8 de Janeiro de 2024, fui à Direcção Distrital da Educação em Nacala-Porto, onde ouvi os professores. Em seguida, queria a reacção da contraparte, portanto, do director daquela instituição. Fui até à secretaria, onde o director estava reunido com os professores, tentando apaziguar os ânimos daqueles professores que estavam ali a reivindicar o não pagamento do 13.º salário. Fui informado de que a reunião já havia terminado e que podia dirigir-me à sala do director para que ele concedesse a entrevista.

Volvido algum tempo, vi o director a sair em alta velocidade. Fui atrás, mas quando percebi o ambiente, notei que ele estava a colocar-se em fuga. Entrou na sua viatura. Empunhei o microfone, depois de lançar a pergunta: “O que está realmente a acontecer com os professores?” Ele não quis responder.

Simplesmente entrou na viatura e pôs o carro a trabalhar. O meu colega operador de câmara estava defronte da viatura, que se deslocava. O colega caiu e o pneu de trás, do lado do condutor, passou-me por cima do pé direito, quando comecei a gritar. Daí, o director foi-se embora, deixou-me ali.

Os professores, quando viram aquela situação, lamentaram e deixaram-me no local. Quem me acolheu foram pessoas de boa-fé que estavam a assistir à cena e me levaram até ao Hospital Distrital de Nacala.

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Jornalista da DW Nádia Issufo
Nádia Issufo Jornalista da DW África