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CIP expõe práticas irregulares na Justiça moçambicana

3 de junho de 2025

O Centro de Integridade Pública apresentou, em Maputo, um estudo que denuncia corrupção e tráfico de influência no sistema judicial moçambicano. A investigação revela práticas que minam a confiança no Estado de Direito.

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Moçambique I Especialistas do Centro de Integridade Pública apresentam, em conferência de imprensa, estudo que denuncia corrupção no sistema judicial moçambicano
Especialistas do Centro de Integridade Pública apresentam, em conferência de imprensa, estudo que denuncia corrupção no sistema judicial moçambicanoFoto: Silaide Mutemba/DW

Uma investigação realizada pelo Centro de Integridade Pública (CIP), ao longo de seis meses, analisou três processos judiciais e constatou práticas irregulares que podem minar a confiança dos cidadãos no sistema de justiça moçambicanoe no Estado de Direito.

Segundo a organização não-governamental, os casos analisados — dois de natureza cível, no Tribunal Judicial da Província de Maputo, e um de natureza criminal, no Tribunal Judicial do Distrito de Marracuene — evidenciam má conduta de magistrados, abusos de poder e violação de direitos fundamentais.

Moçambique Maputo | Zanele Chilundo, investigadora do Centro de Integridade Pública (CIP)
Zanele Chilundo: "Nós constatámos a inacção do Ministério Público, que é o garante da legalidade e defensor do Estado." Foto: Silaide Mutemba/DW

Zanele Chilundo, investigadora do CIP, afirmou que a pesquisa se baseou na consulta de processos judiciais, documentos oficiais e entrevistas com os envolvidos e especialistas da área. Chilundo confirma que "foi possível identificar uma série de irregularidades processuais, legais e más práticas de magistrados e oficiais de justiça na tramitação dos três processos supramencionados”.

Problema pode ser maior

As irregularidades referidas incluem o arrolamento e a partilha de bens alheios, violação dos prazos de prisão preventiva, violação de direitos humanos, indícios de desvio de cauções e denúncia de comportamentos abusivos por parte de magistrados e oficiais de justiça.

A investigadora alertou que os casos revelados podem ser apenas a ponta do iceberg, sublinhando que "o que nós chamamos a atenção nesta investigação não é expor o sistema de justiça, mas apelar para que haja maior fiscalização pelas instituições judiciárias e que sejam reforçados os mecanismos de denúncia e protecção às vítimas”, sugeriu Zanele Chilundo.

Críticas ao Ministério Público por inação

Moçambique Maputo | Baltazar Fael, jurista do Centro de Integridade Pública (CIP)
Baltazar Fael, jurista do Centro de Integridade Pública (CIP)Foto: Silaide Mutemba/DW

Baltazar Fael, jurista e investigador do CIP, reconheceu que a amostra analisada é limitada, mas considera que reflecte falhas estruturais.
"Só foi esse número que conseguimos ter acesso. Os outros processos que tentámos investigar não conseguimos ter acesso aos mesmos. É uma amostra que pode ser questionável, mas todos nós sabemos como funciona o sistema de justiça.”

O CIP criticou ainda a actuação do Ministério Público que, segundo Chilundo, se manteve inerte perante várias destas situações.
"Nós constatámos a inacção do Ministério Público, que é o garante da legalidade e defensor do Estado. E percebemos que houve situações em que o Ministério Público optava por se manter inerte a estes casos”, lamentou a investigadora do CIP.

A DW tentou obter uma reacção do Tribunal Supremo, que remeteu o contacto para o porta-voz da instituição na Província de Maputo. No entanto, não foi possível estabelecer comunicação. Também foi solicitado um posicionamento à Associação dos Juízes, que prometeu pronunciar-se oportunamente.

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Silaide Mutemba Correspondente da DW África em Maputo