Residentes de Bazaruto expulsam turistas, parque nega
25 de janeiro de 2025Em Moçambique, a população do arquipélago de Bazaruto, que se localiza ao longo da costa dos distritos de Vilankulo e Inhassoro, na província de Inhambane, reivindica o dinheiro que os operadores turísticos entregam ao governo através do Parque Nacional de Bazaruto, empresa que gere o arquipélago, e que devia ser entregue aos moradores.
Correia João Mazive, presidente da associação Kanhihwedho na ilha de Benguera, explicou à DW que os 20% entregues ao parque como entidade governamental, que depois entrega o valor à comunidade, deixou de chegar aos residentes. Por isso, a população decidiu manifestar-se.
Segundo João Mazive, este já é o segundo protesto levado a cabo pela população.
Pagamentos 'não chegam'
Anualmente, os operadores turísticos desta região devem entregar cerca de dois milhões de meticais (equivalente a 30 mil euros) à comunidade. Mas nos últimos cinco anos os pagamentos anuais só teriam ocorrido duas vezes.
Glória Cossa, residente no arquipélago de Bazaruto, diz que a comunidade está a expulsar os turistas, porque está a passar fome. Segundo ela, o dinheiro prometido não tem chegado à população local, enquanto os operadores turísticos cobram avultadas somas aos que procuram estes alojamentos.
"O parque não faz nada por nós e estamos a passar mal com fome, sem água potável. Também não podemos pescar, porque os fiscais do parque controlam e prendem os nossos barcos, por isso estamos cansados e não queremos ninguém aqui na nossa comunidade", conta Glória Cossa.
Resposta do PNAB
Numa nota enviada à DW pela administração do Parque Nacional do Arquipélago do Bazaruto (PNAB), a instituição diz que a informação difundida sobre a não canalização dos valores de 20% às comunidades beneficiárias "não corresponde à verdade".
"Asseguramos que esta informação é totalmente falsa", lê-se na nota. "O PNAB tem cumprido rigorosamente com as suas obrigações legais e pode comprovar que a canalização desses valores tem sido feita regularmente".
Na nota enviada à DW, a administração do PNAB refere ainda que "a alegação de que houve expulsão de turistas no Arquipélago do Bazaruto não corresponde à verdade".
"Nenhuma ação desse tipo foi realizada pela comunidade local. O que ocorreu foi um episódio isolado de desentendimento entre alguns membros da comunidade local e alguns trabalhadores das estâncias turísticas estabelecidas no PNAB, sem qualquer ação direta ou indireta para turistas ou qualquer visitante".
À procura de soluções
A instituição nega também que Armando Nguenha, o responsável do Parque Nacional do Arquipélago do Bazaruto, tenha reconhecido que haveria uma falha na canalização dos fundos de responsabilidade social à comunidade, ao contrário do noticiado anteriormente.
Nguenha adiantou, no entanto, que há um impasse nas negociações com a comunidade de Bazaruto, porque esta não concorda com a decisão do parque e pede a retirada dos operadores turísticos.
"Ainda não temos uma solução definitiva, porque a comunidade não aceita as nossas propostas, não concordam com as nossas respostas", diz.
Em declarações à DW, Lucas Vilankulos, diretor distrital do Turismo, explica que o governo está em contacto permanente com a estrutura comunitária para se evitar a vandalização dos estabelecimentos turísticos.
"Estivemos lá na [passada] segunda-feira e reunimo-nos com a comunidade local. Chegámos a acordo sobre a não vandalização dos estabelecimentos turísticos, e que vamos tratar de uma linha de acordo para a melhoria da responsabilidade social dos empreendimentos para com a comunidade”, diz o diretor distrital do Turismo, acrescentando que "os próprios empreendedores turísticos têm a responsabilidade de ajudar na educação das crianças locais e fornecer bolsa do estudo."
Artigo atualizado a 10 de fevereiro de 2025 com a resposta do Parque Nacional do Arquipélago do Bazaruto.