Imprensa alemã: "A África paga pelas revoluções"
10 de junho de 2011Depois de 11 semanas de bombardeamentos contra a Líbia, o “Tagesspiegel” de Berlim interroga-se: será uma boa guerra? O jornal acha que não. "Desde o início", escreve o quotidiano, "os principais apoiantes da intervenção militar não deixaram planar qualquer dúvida sobre o facto de que a proteção de civis inocentes não seria o único objetivo dos aviões de combate ocidentais. Também deveriam ajudar no derrube do poder."
Mbeki, ex-presidente sul-africano, contra os bombardeamentos à Líbia
O ex-presidente sul-africano Thabo Mbeki, assinou um artigo no semanário “Die Zeit” para denunciar "o regresso dos colonialistas". "A resolução 1973 da ONU", pode-se ler no artigo, "permitiu precisamente uma intervenção militar na Líbia, uma iniciativa que os africanos tinham recusado uma semana antes." Mas, mais à frente, Mbeki acrescenta que pela sua hegemonia no Conselho de Segurança das Nações Unidas, "os países ocidentais fizeram compreender à África que permaneciam determinados a lhes ditar o seu futuro."
"Passividade"dos europeus face aos refugiados africanos
“Die Tageszeitung”, insurge-se por seu lado, contra a passividade dos europeus face aos repetidos naufrágios no Medriterrâneo de barcos cheios de sub-saarianos que abandonam a Líbia. "O número de mortos", escreve o jornal, "já ultrapassa o dos líbios mortos no ano transato. Foram essas mortes que forçaram uma intervenção militar para proteger os civis. Em contrapartida, ninguém intervém para proteger os migrantes africanos que fogem." O jornal é particularmente violento com a Alemanha que acusa de ter um papel pouco glorioso ao permanecer afastada de tudo.
A situação no norte de África, mas também a crise na Costa do Marfim, pesaram sobre a economia do continente. "A África paga pelas revoluções", titulou o “Tagesspiegel” que se refere ao último relatório do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) e do Centro de Desenvolvimento da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE).
Perspetivas sombrias para a economia africana
"Estas perspetivas económicas", destacou o jornal, "mostram até que ponto a drástica baixa do crescimento económico nos cinco países da África do norte se repercute no crescimento económico global em África." O jornal acrescenta que para se conseguir uma diminuição palpável da pobreza no continente africano, o crescimento deverá situar-se, durante uma década inteira, entre os 10 e 15%. Mas, a realidade é outra, diz o mesmo comentador: "a maioria dos países do continente está bem longe dessa percentagem e sobretudo, o seu fraco crescimento está distribuído de forma muito desigual. Enquanto uma pequena elite é cada vez mais rica, a grande massa dos africanos ficou ainda mais pobre durante a ùltima década." O jornal destaca ainda que segundo o relatório do BAD e da OCDE, uma maioria de jovens africanos é mal formada e desmpregada, incluindo na África do Sul, o único país industrializado do continente.
Autor: António Rocha
Revisão: António Cascais