Imigrantes dos PALOP nos EUA relatam medo de deportações
7 de fevereiro de 2025De repente, a vida de muitos imigrantes nos Estados Unidos transformou-se num pesadelo. Isto deve-se à política de deportação em massa de imigrantes sem documentos, do novo presidente, Donald Trump, que pretende deportar milhões de imigrantes.
À DW África, alguns relatam que se vive um "clima de medo", sobretudo entre as pessoas que estão em situação irregular.
Entre os membros da comunidade de pessoas que vêm dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), particularmente a cabo-verdiana, o sentimento é de incerteza. A cabo-verdiana Heloísa Livramento, que vive legalmente há 18 anos no país, descreve a situação como difícil.
"Com esta perseguição de Donald Trump, as pessoas estão todas com medo. Muitos continuam a ir para o trabalho, porque têm de pagar as suas contas, já que aqui ninguém lhes dá nada de graça. Têm renda para pagar e famílias para apoiar em Cabo Verde. Então, não dá para ficarem parados", disse.
Preocupação
Heloísa, que reside em Massachusetts, conta que tem recebido imensas chamadas de conhecidos sem documentos, que estão preocupados. Diz que algumas já nem se deslocam para o trabalho.
Outra imigrante, Tânia Teixeira, confirma essa realidade. "As pessoas estão realmente assustadas, pois as deportações já começaram. Mesmo quem está em situação regular teme pelos que não têm documentação, já que podem ter familiares nessa condição", explica.
"Antes, apenas aqueles que cometiam crimes eram deportados, mas agora, até por pequenas infrações as pessoas estão sendo enviadas de volta", acrescenta.
Os relatos de outros imigrantes confirmam esse clima de incerteza. Um guineense, que preferiu não se identificar, também afirma que a maioria vive com "medo extremo".
Prisões
Entre os cabo-verdianos, a imigrante Heloísa Livramento diz que até agora não ouviu relatos de cidadãos presos pelos serviços de imigração, mas mostra-se preocupada.
"Os EUA são um país de oportunidades. Estava tudo a correr bem demais para ser verdade, até que o Donald Trump voltou ao poder", desabafa.
Mais de trezentos cabo-verdianos nos EUA têm ordens de deportação acumuladas ao longo dos anos. O embaixador de Cabo Verde em Washington, José Luís Livramento, afirma que esses cidadãos só não foram repatriados ainda porque não foram apanhados pela polícia.
No entanto, a nova política migratória de Trump pode efetivar a deportação destes e de outros que vivem sem documentos nos EUA.
Numa das dezenas de ordens executivas que assinou após a tomada de posse, Trump deu instruções ao Departamento de Justiça dos EUA para "dar prioridade" à perseguição de indivíduos por "entrada imprópria" e "presença contínua não-autorizada".
O governo cabo-verdiano, através do primeiro-ministro, já garantiu que esse país está preparado para uma eventual deportação dos seus cidadãos.