"Ignorar Mondlane em qualquer acordo pode ser arriscado"
29 de janeiro de 2025O Presidente de Moçambique, Daniel Chapo, anunciou um consenso sobre termos de referência para discutir reformas estatais após um encontro com líderes da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), do Partido para o Desenvolvimento Otimista de Moçambique (PODEMOS), Nova Democracia (ND) e o Movimento Democrático de Moçambique (MDM).
Em entrevista à DW, o analista político Hilário Chacate alerta que a aparente exclusão do político Venâncio Mondlane do processo "pode ser bastante arriscado".
Contudo, Chacate sublinha que, se o acordo reflete as reivindicações de Mondlane, e que diz serem as do povo, então "é um bom sinal".
DW África: Como olha para o consenso alcançado entre o Presidente Daniel Chapo e os partidos da oposição?
Hilário Chacate (HC): As partes envolvidas excluíram um dos atores relevantes neste momento, que é Venâncio Mondlane. Aliás que é, no meu entender e no entender de muitos, a causa de todo este rebuliço político que o país está a assistir. E ignorar este ator em qualquer acordo que seja assinado entre as partes pode ser bastante arriscado.
Talvez o argumento que o Governo esteja a usar seja de que está a reunir-se com os partidos políticos e não necessariamente com candidatos. Talvez, por isso, Venâncio Mondlane não tendo partido, sendo apenas candidato, esteja fora deste diálogo, até aqui.
DW África: Entretanto, Venâncio Mondlane disse, recentemente, em entrevista à DW, que os partidos da oposição recolheram os seus contributos para este consenso. Nem assim considera que há pernas para andar?
HC: Se Mondlane falou nestes termos e que se revê no acordo ou nos princípios que vão ser transformados em acordos nos próximos tempos, então precisa dizer isso aos seus seguidores. Que são muitos. Porque esses seguidores querem que Venâncio Mondlane seja ouvido. Que se transmita então uma mensagem clara de que ele está a ser ouvido e as suas ideias estão a ser acomodadas. A não ser também que esteja a acontecer, em paralelo, outro desdobramento que visa encontrar consensos e um diálogo entre Mondlane e o Presidente da República.
DW África: E o facto de Mondlane, possivelmente, ter dado o seu contributo, não significa necessariamente que haja harmonia entre as partes e que se possa dispensar qualquer tipo de diálogo, certo? Estamos a falar apenas de um acordo de princípio...
HC: Claramente. O que é importante é que, se esse acordo reflete as reivindicações que Mondlane apresenta, e que diz serem as reivindicações do povo, já é um bom sinal. Assim como vimos o discurso de Daniel Chapo, que tendeu, na verdade, a esvaziar as reivindicações de Venâncio Mondlane e dos moçambicanos que o seguem e admiram, como é o caso, por exemplo, da redução dos Ministérios, eliminação da figura de Vice- ministro, entre várias outras medidas visando a contenção de custos do Estado ou da despesa pública. Isso é, de alguma forma, uma tentativa de esvaziar os argumentos de Mondlane e acomodar o que ele tem estado a reivindicar.
DW África: Está a tentar deixar claro que o Governo da FRELIMO está dominado pelo orgulho?
HC: Não tenho outra forma de dizer isto e de não concordar com esta ideia de que há um certo grau de arrogância. Alguns até olham como prepotência, que não me parece tão inteligente assim. É o caso, por exemplo, das portagens. Venâncio Mondlane decretou que as portagens não deviam ser pagas porque são, no seu entender, injustas, que estão dentro da cidade, e que ninguém conhece os contratos entre uma empresa sul-africana e o Governo moçambicano. No entanto, as pessoas decidiram boicotar essa indicação e o Governo está a usar a força para obrigar o pagamento. No meu entendimento, não é dessa forma que se deve resolver as coisas, é preciso encontrar outros mecanismos de diálogo para, por exemplo, reduzir-se um pouco as taxas das portagens por algum tempo, talvez.