Rapto de deputado: “[Sissoco] quer continuar no poder”
19 de fevereiro de 2025A Polícia guineense é acusada de ter raptado Flávio Ferreira, deputado do Partido Africano para a Independência da Guiné-Bissau (PAIGC) para o círculo eleitoral da Europa e América levado para uma das esquadras de Bissau. O crime está a causar indignação entre os guineenses.
O partido mais antigo do país denuncia haver perseguição política, numa altura em que o mandato do Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, está prestes a expirar. O presidente da comissão política do PAIGC na Alemanha entende que o sequestro do deputado foi orquestrado para distrair as atenções neste momento em que Embaló está desesperado em manter-se no poder.
Em entrevista à DW, Pedro Jandi relata as circunstâncias em que Ferreira foi raptado, admitindo que o ato terá sido praticado por elementos da Polícia da Guiné-Bissau. "Se foram direto para a 2ª Esquadra não poderiam ser elementos do outro lado senão elementos da Polícia encomendados por alguém”, afirma Pedro Jandi.
O presidente da comissão política do PAIGC na Alemanha exorta a opinião pública, os guineenses e a comunidade internacional a estarem atentos às pretensões do Presidente Umaro Sissoco Embaló, cujo mandato deve terminar a 27 deste mês. Na sua perspetiva, "isto tudo indica que [Sissoco Embaló] quer continuar no poder”.
DW África: Em que circunstâncias foi raptado o deputado Flávio Ferreira do PAIGC?
Pedro Jandi (PJ): Nós recebemos a informação da prisão do nosso deputado de diáspora, na noite de 17 para 18 [deste mês], [dizendo] que ele estava a fazer uma cerimónia nas zonas de Gabu, no leste do país. Então, começámos a fazer movimentação para saber em concreto o que é que se passava. Fomos surpreendidos com algumas fotografias onde ele estava com as mãos atrás das costas, como se vê nas imagens publicadas na Internet. Foi assim que nós tomámos conhecimento do rapto do nosso deputado.
DW África: E há alguma queixa contra ele na Polícia?
PJ: Não houve nada. Não houve nenhuma queixa contra ele, que nós sabemos. Ele estava, como eles relataram, a fazer simplesmente uma cerimónia tradicional, que não é de conhecimento de qualquer um de nós, [que para eles] são cerimónias proibidas. Se fosse algo proibido, então ele, sim senhor, estaria a incorrer num crime ou um desacato. [Ele estava] a fazer algo que não é proibido.
DW África: E quem são os raptores do senhor Flávio? São, de facto, elementos da Polícia? Já se confirmou isso?
PJ: Também, por cá, a informação que nós temos são os elementos da Polícia, porque, segundo a informação que nos chegou, é que eles foram conduzidos diretamente para a 2ª Esquadra. Então, se foram direto para a 2ª Esquadra não poderiam ser elementos do outro lado senão elementos da Polícia encomendados por alguém.
DW África: A imunidade parlamentar foi espezinhada pelas autoridades. Que mensagens estão a passar com isso?
PJ: É óbvio que a imunidade parlamentar está, sim, a ser espezinhada, porque a mensagem que eles estão a passar é, pura e simplesmente, abuso. A Constituição da República da Guiné-Bissau foi posta de lado, não hoje. Já há algum tempo, desde o primeiro dia da tomada de posse do Presidente Umaro Sissoco Embaló que ele se pronunciou a dizer, a partir de hoje, a Guiné-Bissau tem um presidente e tem um chefe único. Então, foi a partir dessa data que a Constituição da República da Guiné-Bissau caiu por terra abaixo.
DW África: Este ato cheira à perseguição política?
PJ: Sempre, porque este Presidente da República não considerou os opositores políticos. Para ele, não há oposição, não há políticos à volta dele. Senão, vejamos: depois do derrube do Parlamento, a dissolução do Parlamento por um decreto ilegal, formou o Governo de iniciativa presidencial, e este Governo não governa nada. É um Governo não do povo, mas um Governo ao serviço do Presidente da República. Portanto, ele, desde aquela data a esta parte, nunca considerou os políticos, senão a perseguição política.
DW África: Alguns setores entendem que este rapto é mais uma manobra de distração de Sissoco Embaló, neste momento em que o seu mandato está no fim. Vê o caso da mesma maneira?
PJ: É óbvio. Aliás, eu gostaria aqui de chamar a atenção da opinião pública, da comunidade internacional e do povo guineense humilde que sofre com esta situação para não desviarem o rosto da data do dia 27.02. Portanto, não devemos desviar a atenção, de maneira alguma, porque chega a data do dia 27, ele perde o mandato legal, provavelmente vai continuar como está a desenhar.
Uma vez que ele está se apetrechar de forças de toda a ordem, desde os militares até polícias, não sei. Então, isto tudo indica que quer continuar no poder.