Ossufo Momade enfrenta exigência de afastamento da RENAMO
16 de maio de 2025O partido Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) enfrenta uma crise sem precedentes. Membros e simpatizantes estão abandonando o partido depois de anos de contestações e acusações contra o seu líder, Ossufo Momade.
A situação de Momade parece piorar, uma vez que mais de meia centena de antigos guerrilheiros da RENAMO estão acampados na sede do partido em Maputo para "forçar" a demissão do líder, acusando-o de "má gestão" da agora terceira força parlamentar.
Em entrevista à DW África, João Machava, antigo guerrilheiro da RENAMO e membro do partido desde 1989, em representação do grupo de guerrilheiros, afirma que os guerrilheiros não vão abandonar o local antes que Momade apresente a demissão.
Em causa está a contestação à liderança de Ossufo Momade, que foi também candidato presidencial nas eleições gerais de 09 de outubro, ficando em terceiro lugar entre quatro candidatos.
Nessa mesma votação, a RENAMO ainda perdeu o histórico título de maior partido da oposição para o Podemos, passando de 60 para 28 assentos no parlamento moçambicano. Questionamos João Machava sobre o ponto de vista dos guerrilheiros e a ação de protesto contra a atual presidência da RENAMO.
João Machava (JM): Nós estamos aqui porque reivindicamos a liderança do partido. Exigimos que Ossufo Momade, como Presidente, se demita imediatamente, porque não está a ajudar o partido, está a estragá-lo. O partido já vai à falência. Um partido que foi criado com muito sofrimento. Então, nós, que sofremos muito, que temos ainda balas no corpo da criação deste partido, exigimos que ele se demita.
DW África: Na vossa opinião, não é um sucessor digno do falecido Afonso Dhlakama?
JM: Nada! Ele é um negociador, que só entrou para fazer negócio com o partido. Não queremos indivíduos que fazem negócios com o partido.
DW África: E vocês ficam aí até, de facto, o Momade se demitir, ou admitem qualquer outra saída para a situação?
JM: Nós chegámos aqui ontem, dormimos. Até hoje, ele ainda não se pronunciou. Não vamos sair daqui antes de ele se demitir.
DW África: E é só de incompetência que vocês acusam Ossufo Momade?
JM: Muita coisa: é a má gestão, o cancelamento das eleições distritais, e muitas outras coisas.
DW África: João Machava, vocês estão armados? Admitem recorrer à violência?
JM: Não, nós não estamos armados. Somos civis, mas civis desmobilizados, que já vivemos com armas, mas agora já somos civis, somos membros [da RENAMO]. Por isso, as nossas reivindicações estão dentro das delegações do partido. Nós não queremos entrar em conflitos com as autoridades policiais.
DW África: E a presidência da RENAMO já admitiu conversar com vocês, ou ignora-vos completamente?
JM: Ignora-nos completamente. Ele não quer falar connosco. Desta vez, estamos saturados. Ele deve sair. Nós não saímos daqui antes que ele saia.
DW África: E como é que descreveria a situação dos antigos guerrilheiros, a sua própria situação e a situação dos seus companheiros?
JM: Estamos revoltados com a liderança. Está muito difícil mesmo.
DW África: As promessas não foram cumpridas?
JM: Nem um por cento foi cumprido. Pelo menos cumprir 1%... Ossufo Momade não conseguiu.
DW África: E como é que vocês vêem o futuro da RENAMO? O partido tem futuro?
JM: A RENAMO tem um futuro objectivo. Basta sair Ossufo Momade e a RENAMO será reorganizada.
DW África: E quem é o vosso candidato preferido?
JM: Neste momento, não temos candidato. O nosso foco agora é tirar Ossufo Momade. O partido, num fórum próprio, que é o Congresso, vai indicar uma pessoa.
DW África: E agora vocês esperam que Ossufo Momade apareça aí e converse convosco?
JM: Ele chegando aqui seria a melhor coisa. Mas o que nós queremos é que ele chegue e apresente o documento de renúncia. É a única coisa que nós queremos.