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Guerra em Cabo Delgado "não incomoda a elite política"

18 de fevereiro de 2025

Os ataques terroristas em Cabo Delgado estão fora da agenda presidencial, concluem vários observadores. A guerra no norte, longe da capital, "não incomoda as classes médias de Maputo", afirma o investigador João Feijó.

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Nesta foto de arquivo tirada em 2018, um soldado do Exército moçambicano inspeciona uma estrutura incendiada por terroristas em Naunde, no norte de Moçambique
Destruição provocada por terroristas em Naunde, no norte de Moçambique (foto de arquivo)Foto: AFP/J. Nhamirre

Um mês após assumir a presidência, Daniel Chapo ainda não apresentou "nenhuma ideia" em como pretende resolver a questão da insegurança no norte de Moçambique.

Em entrevista à DW África, o investigador do Observatório do Meio Rural (OMR) João Feijó diz que com Chapo na presidência, o conflito na província de Cabo Delgado caiu no esquecimento.

DW África: Com a crise política em Mocambique, o conflito em Cabo Delgado ficou esquecido?

João Feijó (JF): Sim, acaba por ficar esquecido. A guerra está lá no Norte, bem longe da capital, não incomoda as classes médias de Maputo, nem a elite política de Maputo. Alguns até podem fazer os negócios que se fazem em período de guerra, que não passam por um tribunal administrativo, então a situação está bastante confortável.

Mas acho que o mais grave nisto tudo é que temos um candidato presidencial que nunca, ou pelo menos eu não ouvi, [manifestou] alguma ideia sobre o conflito em Cabo Delgado. Portanto, ele foi eleito presidente do partido FRELIMO sem se saber uma ideia que ele tem sobre o país e sobre essa guerra em específico, fez a campanha sem qualquer discurso sobre esse assunto.

Investigador João Feijó em entrevista à DW
João Feijó: "A guerra está lá no Norte, bem longe da capital, não incomoda as classes médias de Maputo, nem a elite política de Maputo"Foto: Nádia Issufo/DW

Não sabemos o que é que ele pensa sobre, por exemplo, os ruandeses, sobre a hipótese de soluções políticas para o conflito, que reformas é que têm que ser necessárias, ao nível, por exemplo, da descentralização, ao nível da despartidarização, ao nível do alargamento de possibilidades de participação, de diversificação da economia, da credibilidade, de isenções fiscais de grandes projetos. Portanto, são assuntos que ele nunca falou, nem na campanha eleitoral, muito menos durante a discussão de quem iria ser o candidato do partido FRELIMO.

Aliás, essas discussões pura e simplesmente não se realizam nas reuniões do Comité Central, ali não há debate, não há troca de ideias, é tudo feito nos bastidores, são pessoas que são nomeadas por cargos de confiança política para manter tentáculos e lobbies de poder e não para promover reformas, como ele próprio diz, de maneira que vai ser esculpido. Ele próprio se apresenta como um fantoche, como um boneco, uma marioneta, então o que é que se pode esperar disto?

DW África: E continuamos a ter vários problemas de insegurança no norte do país, os ataques terroristas continuam em Cabo Delgado.

JF: Não é só a guerra em Cabo Delgado, são os Naparamas, são estas revoltas das populações, é a própria província de Gaza, no bastião do partido FRELIMO, é o bloqueio dos corredores económicos, portanto o país está completamente ingovernável.

Daniel Chapo investido Presidente de Moçambique

DW África: E por que é que acha que o Presidente não tem tomado medidas concretas para resolver estes problemas, sobretudo o problema de insegurança no norte do país?

JF: O Presidente está com a ilusão que governa, porque consegue sair de casa, consegue ir da Ponta Vermelha até ao Palácio da Presidência. Como consegue andar pelos ministérios aqui, pensa que governa, mas a verdade é que ele não pode sair de casa, ir por exemplo ao bar da Luís Cabral, ali a dois quilómetros ou três ou quatro quilómetros da presidência. Ele não pode sair até à Matola sem espalta.

Portanto, a questão é a falta de legitimidade deste governo, a falta de visões políticas e de soluções para isto, a intransigência para se reunir com Venâncio Mondlane, nem que fosse para simular, para fingir que está interessado em diálogo, mas ele não o faz porque sabe que será literalmente humilhado por parte de um candidato, um adversário que é muito mais fluente em termos de ideias, muito mais desafiador, muito mais populista, com uma oratória muito incisiva.

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Braima Darame - Jornalista DW
Braima Darame Jornalista da DW África