Gaza: Tantas ofertas porquê, senhora governadora?
5 de junho de 2025250 quilos de mandioca, 250 quilos de laranjas, uma tonelada de arroz, vacas, cabritos, um casal de suínos. Tudo isto, e mais, fez parte das ofertas da governadora de Gaza a Daniel Chapo, numa visita recente do Presidente da República à província.
A sociedade civil ficou incrédula. O Centro de Integridade Pública (CIP) anunciou ter submetido, na segunda-feira, uma participação à Comissão Central de Ética Pública para esclarecer se as ofertas são lícitas.
Segundo o CIP, a questão é que a Lei de Probidade Pública estipula que todo o "servidor público não deve, pelo exercício das suas funções, exigir ou receber benefícios e ofertas, diretamente ou por interposta pessoa."
Margarida Mapandzene, a governadora da província de Gaza, diz que as ofertas ao Presidente da República são um gesto normal na região. "Não é primeira vez ao nível da província de Gaza fazermos um gesto semelhante", afirmou Mapandzene aos jornalistas.
"Queriam apenas alguma coisa para falar da governadora e encontraram este gesto que nós fizemos para o nosso Presidente."
Filipe Mahanjane, membro da sociedade civil em Gaza, tem uma opinião contrária. Ele diz que o aconteceu durante a visita da Presidente da República, a 27 de maio, não tem nada de normal.
Ofertas em dias de crise
"Pode ser normal para a governadora, mas pergunte à população se é normal aquilo que ela fez", desafia o ativista cívico.
As ofertas ao Presidente da República devem ser simbólicas, acrescenta Mapandzene. "Daquela maneira não, particularmente num momento em que o país está a atravessar uma situação difícil."
Algumas ofertas, segundo avançou o Presidente da República durante a visita, seriam canalizadas a instituições de caridade.
Ainda assim, Filipe Mahanjane salienta o simbolismo do gesto – a oferta de centenas de quilos de víveres ao servidor público mais bem pago do país, enquanto falta comida em infantários, centros de apoio a idosos e até em unidades sanitárias de referência.
A sociedade civil em Gaza exige agora a devolução aos donos dos bens ofertados.
"As pessoas manifestaram-se por causa do custo de vida. Como sociedade civil, nós repudiamos que o dirigente máximo tenha tomado aquela atitude." Mahanjane diz que Chapo não devia ter recebido as ofertas.
O Centro de Integridade Pública sublinhou, esta semana, que Daniel Chapo tem de dar o exemplo.
Se a Comissão Central de Ética Pública não reagir sobre o caso em Gaza, outros servidores públicos "poderão aceitar receber ofertas", proibidas pela Lei de Probidade Pública, alerta o CIP.